Há muito aqui ao lado e a chamar-nos para um passeio de mota, a Serra da Freita tornou-se assim no nosso próximo destino. Em apenas mais um fim de semana de Outono, naqueles dias em que o frio e as nuvens carregadas intimidam um passeio mais além, rumámos assim mesmo ao norte do país. Pela Freita encontrámos um refúgio e a beleza dos dias de Outono.
A Serra da Freita
Em torno das vilas de Arouca, Vale de Cambra e São Pedro do Sul, a subida à Serra da Freita é a porta de entrada em outro mundo. Em altitude, num cenário bucólico e tranquilo, a chegada à Serra da Freita arrebata-nos de imediato.
As estradas que a atravessam, levam-nos a percorrer uma imensidão de paisagens desnudas de alta montanha, que no Outono se encontram revestidas por um manto de cores. O verde que desaparece gradualmente, dando lugar aos tons amarelos, vermelhos e castanhos que caracterizam uma estação deslumbrante.
As pedras revestidas por líquenes e musgos, as aldeias histórias e centenárias, as pequenas estradas que as unem em subidas e descidas que desafiam a gravidade, os riachos que reflectem a paisagem, os planaltos interrompidos por vales profundos, as vacas que pastam nos campos ou as pequenas igrejas encaixadas em colinas. Todos guardam em si uma beleza indescritível.
Pintada pelas cores outonais, a Freita transporta-nos às Terras Altas (Highlands), na Escócia. Relembra-nos a cada quilómetro que nem só de grandes viagens se fazem grandes destinos. Chamámos-lhe as Terras Altas de Portugal e o estatuto é merecido. Regressamos inevitavelmente diferentes depois de uma visita à Serra da Freita. Como sempre, aqui partilhamos o nosso roteiro.


Roteiro detalhado de viagem pela Serra da Freita
Vale de Cambra – Mizarela – Pedras Parideiras – Pedras Boroas – Panorâmica do Detrelo da Malhada – Candal – Pena – São Macário- Portal do Inferno – Mizarela | 150 km – 4h
Vindos da Batalha no centro do país pela auto estrada A1, foi a partir de Vale de Cambra que começámos realmente a passear. Seguimos a N224 em direcção a Arouca, mas a subida para a Freita faz-se muito antes de lá chegar, pela pequena estrada M511.
O dia era predominantemente cinzento. Envolto num nevoeiro que aparece e desaparece em poucos minutos. Abrir o capacete significa sentir o ar gélido da montanha a bater-nos no rosto. Mas também dias assim têm o seu encanto. Andar de moto é também aprender a ver a beleza em qualquer condição que pelo caminho se encontre e ser feliz apenas por ir. Nós somos.

A pequena M551 é um balcão panorâmico que se estende por entre curvas acentuadas, prolonga-se ganhando altitude por alguns quilómetros de estrada sinuosa. Até que, encaixada num rochedo granítico do planalto da serra, a Capela da Senhora da Lage é a primeira a chamar-nos a atenção. Ligeiramente desviada do percurso principal, quase passa despercebida aos que ainda estão eufóricos com a subida curvilínea até lá chegar.
Uma pequena capela do século XVII, construída na montanha isolada por entre rochedos de granito, acrescenta um toque misterioso ao curto caminho que até ela se faz.




Cascata da Frecha da Mizarela
Voltando à estrada principal e seguindo até à pequena aldeia de Albergaria da Serra, o percurso pela serra é feito por um planalto extenso onde as diferenças de altitude se tornam imperceptíveis. Uma sensação rapidamente interrompida assim que avistamos a Cascata da Frecha da Mizarela.

Subitamente, surge a imponente queda de água, com uma altura que ronda os 75 m encaixada nas encostas de um vale profundo. Flui vigorosa dos seus cerca de 100 m de altitude e é alimentada pelas águas do rio Caima. A serenidade e a ausência de ruído é abalada pelo chocalhar das águas em movimento. Os precipícios tornam-se eminentes e a pequena estrada junto ao miradouro convida-nos a uma descida repleta de adrenalina.

O Mizarela Pass!
Íngreme, estreita, curvilínea e a dominar a encosta de um promontório rochoso. Com a Frecha da Mizarela do lado oposto, a descida foi algo a que não resistimos. Com o nevoeiro a acrescentar um ar dramático e misterioso, foi por este percurso que o nosso coração começou a bater mais acelerado!
Divididos entre o risco de encontrar uma estrada sem pavimento em plena descida (onde virar uma mota de touring seria tarefa impossível), e a curiosidade sobre o que para lá do horizonte se encontra, seguimos rumo ao desconhecido.
Quando digo seguimos, não é bem assim! Sabendo que o João em situações desconfortáveis se sente mais confiante quando está sozinho, somado ao pânico de alturas que eu própria tenho, não tardou a que saltasse da mota com o pretexto de uma bela fotografia! Segui a pé, de máquina fotográfica na mão e a passo acelerado. A pequena estrada é totalmente pavimentada e um percurso sem saída. Termina poucos quilómetros depois num estreito vale que abriga uma aldeia desabitada. E porque somos adeptos de baptizar locais, chamamos-lhe o Mizarela Pass.



As Pedras Parideiras da Serra da Freita
Conhecida mundialmente por testemunhar um fenómeno geológico raro, a pequena aldeia de Castanheira abriga o Centro de Interpretação das Pedras Parideiras.
Apelidadas de montanhas mágicas, é neste local da Freita que o processo geológico de formação dos granitos encanta os amantes da ciência e intriga os mais distraídos.
Um afloramento de granito nodular, deixa a céu aberto a imagem do processo de erosão único no mundo. Os grandes nódulos negros incrustados na rocha, por serem mais resistentes do que a rocha encaixante aos agentes de erosão, libertam-se e acumulam-se no solo em redor. Nos termos populares, diz-se que as rochas ”parem” as outras e daí a designação de Pedras Parideiras. Estacionámos a mota e dedicámos uns minutos de caminhada pela escadaria que percorre o local.

Pedras Boroas do Junqueiro
Poucos quilómetros separam a Mizarela do sítio geológico de Pedras Boroas do Junqueiro, mas o caminho para lá chegar merece tempo de contemplação. Saímos da estrada principal por uma pequena estrada de calçada de pedra.
Mais uma vez, o cenário em redor remete-nos às paisagens da Escócia. Viajar de moto pela Freita ao ritmo de cada um, é sem dúvida a melhor maneira de explorar todos os seus detalhes. Um verdadeiro festival de sentidos onde seguimos sobre rodas pela calmaria das montanhas. Surgem os pequenos riachos e os lagos de tons escuros, águas límpidas e gélidas. A estrada de curvas suaves segue num horizonte majestoso que nos encanta de todos os ângulos. É fácil passar pela Freita e deixar escapar este percurso. Sugerimos que o siga com afinco.
Do ponto de vista geológico, o local com o nome de Pedras Boroas do Junqueiro surge do afloramento de rochas graníticas com mais uma peculiar forma de erosão. Os rochedos apresentam fissuras semelhantes a uma broa e o nome do local daí surgiu.



Panorâmica do Detrelo da Malhada
Na Serra da Freita todos os caminhos vão dar a algo incrivelmente belo e a pequena estrada de Pedras Boroas não é excepção. A Panorâmica do Detrelo da Malhada foi a paragem seguinte. Aqui, um miradouro chama-nos a contemplar o horizonte que mesmo com nuvens carregadas não deixa de merecer a paragem. Ao fundo, a vila de Arouca e o caminho para o Portal do Inferno, uma das mais espectaculares estradas da serra.



No planalto da Serra da Freita
Envolto num ambiente pitoresco e campestre, é impossível vaguear pelo planalto serrano sem encontrar as vacas arouquesas pelos pastos selvagens. Rendilhado de verde e tons acastanhados e de vistas infinitas, percorrer o coração da Serra da Freita é um passeio que revela a cada quilómetro a sua beleza esplendorosa. Viajar de mota por Portugal é assim. Cada destino eleito será um local único e especial a cada curva.



Ao sabor da brisa do entardecer, seguimos pelas estradas que unem as Aldeias Históricas do Candal, Drave, Pena e Regoufe. Concluímos que ainda muito há a explorar e que o regresso para conhecer os recantos de tão belas aldeias é obrigatório. Empoleiradas nas encostas serranas, maioritariamente construídas de xisto, percorrer as suas ruas empedradas é deambular pelas histórias e vida de outros tempos. Cantinhos preciosos de Portugal, de gentes acolhedoras e de sorriso no rosto.


Dica:
O acesso a Drave é dificultado pelo percurso off road em descida abrupta feito de calhaus soltos. Demasiada ousadia para a nossa mota pelo que a visita ficará para outra oportunidade.
Serra de São Macário
Segue-se a Serra de São Macário que partilha fronteiras com a Freita e espreita a Serra de Montemuro. Percorremos uma rota idílica, rodeada de carvalhos e castanheiros centenários que nesta altura do ano estão carregados de ouriços. Em São Macário, escapou-nos a visita ao Santuário de São Macário perfeitamente escondido entre pedregulhos. Sem querer, deixámos um motivo para voltar aos lugares maravilhosos deste Portugal. No entanto, recomendamos que inclua no roteiro.
Portal do Inferno e Garra
Não sei porque lhe chamam Portal do Inferno se percorrê-lo de mota é sinónimo de Portal do Paraíso. Com um traçado espectacular e a testemunhar algumas das vistas mais sublimes da Serra da Freita e suas vizinhas Arada e São Macário, a estrada M567 é aquele percurso que nos faz gritar wooow dentro do capacete!
Conquistanto a cumeada da montanha que separa duas depressões escarpadas, percorrer a estrada do Portal do Inferno provoca um certo sentimento de agonia pelas alturas e de fascínio pelos cenários naturais que atravessa. Quando estas duas sensações se combinam num passeio de mota, é sinónimo de passeio épico.


Sugestão de Alojamento na Freita
A noite já caía quando voltámos ao nosso refúgio na Freita e à beira da Cascata da Mizarela: o Hotel Rural da Freita. Localizado numa pequena aldeia onde as casas existentes se contam pelos dedos das mãos, encontrámos no Hotel Rural da Freita um refúgio acolhedor no topo da serra. De olhos postos na Frecha da Mizarela e com uma vista privilegiada para as montanhas, este é um lugar que muito recomendamos para uma estadia. Acolhedor, com anfitriões de extrema simpatia, lareira para nos receber e um pequeno almoço delicioso. Para reservar estadia no Hotel da Freita ou procurar alojamento na serra aqui.
Sugestão de Restaurante na Freita
Viajar pelas terras de Portugal é por si só uma experiência gastronómica que enriquece qualquer roteiro. Mas há aqueles locais que nos deliciam de tal maneira que não nos importaremos de lá voltar quantas vezes nos for possível.
Subir à Serra da Freita será sempre um passeio de sonhos e saber que o Restaurante Mira Freita por lá se encontra será sempre uma boa desculpa para voltar. Envolto num ambiente tradicional, da cozinha do Mira Freita só saem pratos que nos remetem à cozinha dos nossos avós. As entradas, os assados no forno, os grelhados, os guisados e as sobremesas. Por lá tudo é bom! Se o próximo passeio é pela Freita, este é um local de paragem para abastecimento obrigatória.

Mapa do Percurso pela Serra da Freita
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir.
Terminamos com mais um belo passeio de mota por Portugal. E porque pelo nosso país boas opções não faltam, partilhamos também outras sugestões para viagens em duas rodas:
- Roteiro de mota pelo Douro Vinhateiro
- Roteiro de mota entre Évora, Monsaraz e o Alqueva
- Roteiro de mota entre Marvão e a Ponte Romana de Alcântara
- Roteiro de mota pela Serra da Estrela
- Roteiro pelas Serras de Aire e Candeeiros
- Portugal de Norte a Sul pela mítica Estrada N2
- Roteiro pelo Douro Internacional e Lago de Sanabria
- Parque Natural do Vale do Guadiana
- Na Rota dos Templários – Tomar e Almourol
- Estrada Atlântica
- Sudoeste alentejano e Costa Vicentina
Grande Espectáculo de Passeio. Mais uma vez, para além da “qualidade” da sugestão, que é muito Boa, é Muito Boa também a Forma como Tudo nos é Contado. Parece um Conto Encantado! Parabéns!!
Obrigado José Morgado!! É porque a serra é mesmo um conto encantado eheh lindíssima!! Muito obrigado! 😉
Que grande e excelente percurso! Já há muitos anos que para esses lados não vou, mas acabei por viajar um bocadinho com este relato e fotografias!!
Que bom que sim José Nuno! Obrigado pelo comentário e não se esqueça de revisitar a Freita!! É linda!
Que grande “cagaço” me esperaram ontem quando virei para a Mizarela…fiz 50 metros e antes da primeira curva parei e por fim lá fui pedir ajuda a dois veraneantes para me ajudarem a trazer em marcha atrás a pesada e alta TRK 502 X. Segui a vossa rota quase até São Macário. Aí desci para São Pedro do Sul e depois N16. A completar um dia destes.
Então Pedro? A RT fez essa estrada também…fomos virar no final do percurso sem problema ;( Lamento o susto! Boas curvas
Muitos parabens e obrigado pela divulgação da nossa lindíssima terra.
Vou passar a acompanhar-vos, pois tenho uma rt igual à vossa e eu e a minha esposa também temos o mesmo gosto por viagens.
Um abraço.
José António
Olá António! Muito obrigado pelo seu comentário! Ficamos contentes que tenha gostado! Boas curvas com essa RT 😉
Parabéns pelo excelente roteiro. Tenho a sorte de conhecer muito bem a Freita, e portanto os vários locais que visitaram. É deslumbrante em todas estações do ano. Na primavera o planalto é lindíssimo. Mas para desfrutar da serra e descobrir os seus segredos (como as cascatas e os “poços” por exemplo), é essencial percorrer alguns dos seus percursos pedestres. Sugiro os PR 6,7, 14 e 15. Mais uma vez obrigado pela divulgação desta maravilha natural.
Muito obrigado pelas sugestões Fernando! Ficarão anotadas! O regresso à Freita é uma certeza 🙂 Obrigado pelo seu comentário.
Boas.
Gostava de saber se o Sr. tem estes trajectos gravados em ficheiros GPX que era para meter num GPS Garmin? Gostava de poder fazer este magnifico passeio de mota.
Francisco Silva
Boa tarde Francisco. Não temos o mapa em GPX lamento! Partilhamos o mapa em detalhe da rota, pode consultar no Google Maps e exportar para o GPS. Boas curvas!
Não voltei à Freita desde 2002 aquando de uma aula de campo com o Prof. Rochette na cadeira de Processos Erosivos Actuais. Definitivamente tenho que lá voltar e dar a conhecer a Freita à RT!
Obrigado por me terem “espicaçado” com a vossa partilha.
Votos de felicidades e de muitos passeios.
Boas curvas.
Olá Jorge! Muito obrigado pelo comentário. Parece que a Freita é para nós um dos locais de aulas de campo. Também eu (Patrícia) já não visitava a Serra da Freita desde que terminei o curso de Engª Geológica em Aveiro. A Freita era a nossa sala de aulas muitas vezes.
Uma óptima sugestão. Muitos parabéns 🙂
Já percorremos algumas dessas estradas e têm paisagens realmente incríveis!
Muito bom artigo! Ainda não conheço a Serra da Freita mas com este roteiro está nos planos para um futuro próximo! 🙂
Muito obrigado Adriana! Vale bem a pena 🙂
Que excelente artigo! Ficámos cheios de curiosidade em conhecer a Serra da Freita 😀
É linda! Temos de voltar para conhecer melhor as Aldeias do Xisto. Obrigado pelo comentário Ioana 😉
Muito obrigado pelas sugestões. Conheço minimamente a serra da Freita, cruzei-a várias vezes mas de carro. Agora que tenho uma trail 125cc e moro no Porto estou interessado em percorre-la de moto.
Muito obrigado pelas dicas. Se a minha pequena moto se portar bem, avanço para distâncias mais longas.
Cumprimentos
Fernando Pereira
Muito obrigado pelo comentário Fernando! Felicidades com a sua moto e que muitas boas viagens se croncretizem! Boas curvas
Mas que percurso incrível, não conhecemos bem essa zona do país mas vamos apontar todas essas dicas 😉
Obrigado pelo comentário Marina! 🙂 É uma zona muito bonita!
Fantástico! Confesso que nunca tinha ouvido falar da serra da freita! Obrigada pelas dicas 🙂
Vale a pena ir conhecer. Obrigado pelo comentário Maria João! 🙂
Temos passado várias vezes pela Serra da Freita e realmente é um dos locais incríveis para passear de mota.
Bonita viagem a aqui publicada.
Boas curvas e muitas felicidades.
Peregrinos do Asfaslto muito obrigado e igualmente 😉
Olá!
Eu e a minha esposa seguimos o vosso mapa pela Serra da Freita, complementando-o com um percurso mais alargado por Vouzela e Viseu, não com uma BMW RT mas com um SEAT ST, mas com pena de não o fazermos na nossa mota também, mas fica para uma próxima.
Obrigado pela vossa partilha e sugestão, a Serra da Freita é Fantástica.
Somos uns seguidores das vossas viagens.
Obrigado e saude!
Domingas Manuela
Joaquim Bento
Bom dia Joaquim! Muito obrigado pelo vosso feedback! Bem, mesmo que não se possa ir de mota, ja interessa ir e divertir se! Contentes em saber. Uma boa semana para vós e obrigado por seguirem o QI
Olá , já tive o prazer de fazer todo este percurso de mota e realmente é qualquer coisa de fascinante !! De cortar a respiração …. é daqueles que ficamos com vontade de voltar !
Verdade! Apanhámos um diz cinzento de Outono mas mesmo assim a Serra da Freita estava linda!!!
Bela ideia para um percurso a fazer… vou copiar o trajecto!! 🙂
Boas curvas pela Freita 😉
Excelente percurso, já estou com vontade de o ir fazer. Após sacar o mapa para o google maps como faço para seguir o percurso? só me aparecem os pontos marcados , ajuda pff
Olá Gonçalo. Estes mapas que partilhamos não são navegáveis. Tem de exportar o mapa para um kml ou gpx para poder seguir o track num qualquer software de navegação. Boas curvas!
Excelente percurso, muito mas muito bom. Obrigado pela partilha e Parabéns! 🙂 Boas curvas!
Muito obrigado pela mensagem e boas curvas sempre! 😉