Porque Transalpina é uma das rotas mais idílicas que tivemos a oportunidade de percorrer, não poderíamos deixar de lhe dedicar este especial cantinho. Para nós, a melhor estrada da Roménia para conduzir em duas rodas e aquela cujos quilómetros nos ficarão para sempre guardados na memória das estradas fabulosas.
Conseguem imaginar aqueles traçados, que mesmo que o horizonte se prolongue ao infinito, nunca deixam de se avistar como se de um oásis se tratasse? A Transalpina é assim. Com o ganho de altitude, as florestas de vegetação cerrada de pinheiros, dão lugar às montanhas desnudas, repletas de vegetação rasteira que nos permitem observar a sua geometria até que os nossos olhos o permitam. Ao pavimento recém colocado e aos cenários naturais avassaladores, soma-se a expectativa de percorrer o que o horizonte nos revela.
Por muito que entre uma montanha e outra a distância nos pareça curta, o caminho para lá chegar não é assim tão simples! Desenrola-se ondulando pelas curvas fabulosas, de uma estrada larga e permissiva, em alucinantes subidas e descidas. Surpreendente, mágica e louca. Percorrer a Transalpina é um misto de emoções.



Sobre a Transalpina
Com uma orientação norte-sul, e atravessando as montanhas de Parang entre Sebes e Rânca, a estrada Transalpina DN67C, prolonga-se por 146 km. Um traçado que domina as montanhas dos Cárpatos num percurso distinto e avassalador. É a mais alta estrada da Roménia, e alcança os 2145 m acima do nível do mar, no sinuoso Pasul Urdele. A cereja do topo do bolo da Transalpina.
Construída pela monarquia romena e ainda conhecida pela The King’s Road (Estrada do Rei), foi durante a Segunda Guerra Mundial que os militares alemães investiram na sua reconstrução para utilização militar. Porque esteve desde então inacessível à maioria dos veículos e só há alguns anos atrás foi totalmente pavimentada, por lá os cenários são ainda de natureza intocada na sua maioria. Totalmente aberta ao trânsito no ano 2012, é hoje possível percorrer uma das estradas mais icónicas da Roménia com qualquer tipo de mota e aproveitar ao máximo a qualidade do piso. Esta é uma estrada que recomendamos incluir em qualquer roteiro pelo país.


O percurso de Sebes ao Pasul Urdele, o topo da Transalpina aos 2145 m | 110 km (2h)
Deixando para trás a pitoresca cidade Sebes e as Aldeias da Transilvânia, rumamos a sul ansiosos por percorrer mais uma estrada mítica. O dia era soalheiro mas o horizonte carregava nuvens ameaçadoras. Entre elas, espreitava o sol com uma luz resplandecente típica dos dias em que se combina com chuvas e trovoadas.
O impasse para vestir o fato de chuva prolongou-se pelos quilómetros iniciais, enquanto percorríamos as florestas sombrias no sopé das Parang Moutains.
Fazendo-nos suspeitar que os dias anteriores foram de chuvas fortes, somos acompanhados pelo agitado Rio Sebes. As águas chocam com os pedregulhos que sobressaem pelo leito do rio e fluem a vigorosa velocidade. Surgem das encostas norte das montanhas e alimentam a Barragem de Petresti e o imenso Lago de Obreja de Capalna.
Cruzamos-nos com companheiros em duas rodas que circulam em percurso contrário em cores fluorescentes. As cores da vestimenta, indicam-nos que os fatos de chuva estão em uso e o caminho a seguir avizinha-se chuvoso. Assim, decidimos vestir os nossos, nem que seja por símbolo de sorte. Usualmente, sempre que decidimos dar-nos a esse trabalho, o sol abre no horizonte tornando o esforço inútil (e irritando-nos um bocadinho).
Para lá das florestas das Parang Moutains
Assim foi. O sol voltou a brilhar poucos quilómetros depois e a névoa das montanhas dissipou-se a seu ritmo. A Transalpina, agora a elevadas altitudes, surgiu no horizonte a conquistar as cumeadas das colinas e montanhas que atravessa. Os curtos quilómetros até ao seu ponto mais alto revelaram-se dos melhores de sempre. Riqueza natural soberba parece diminuto para descrever os panoramas da região. A Transalpina é rodeada por um território de descoberta e fascínio pela natureza. Em duas rodas testemunhamos tudo em primeira mão.

O percurso desde o topo da Transalpina a Novaci | 36 km (40 min)
À semelhança de muitas passagens de montanha pelo mundo, também pela Transalpina as tradicionais barracas de comidas e bugigangas em geral se encontram no seu ponto mais alto. Localizadas num local inóspito e sujeito ao clima temperamental da montanha, os serviços disponíveis são limitados. (E digamos que caso pretendêssemos acrescentar outro adjectivo, apostaríamos no duvidosos).
Estamos no ponto mais alto da Roménia aos 2145 m de altitude no Pasul Urdele. Aqui, a paisagem não tem de se esforçar para nos persuadir a admirá-la. Carregando o fardo dos Invernos rigorosos, o crescimento da vegetação nos arredores é limitado. Por sua vez, as montanhas, perdidas na imensidão, aparecem revestidas de um manto verde, onde pequenas lagoas se formam nas depressões. Provando-nos que nem só de grandes florestas se fazem grandes obras da natureza.
A estância de Ski dos Cárpatos: Rânca
Seguimos sobre rodas até Ranca, a mais famosa estância de ski da Roménia. Esta é parte mais sensacional da Transalpina. Aqueles últimos quilómetros de curvas sucessivas, pelo topo da montanhas, ladeadas por precipícios eminentes. Diferentes de tudo o que já tivemos oportunidade de percorrer por estes nossos Quilómetros Infinitos, a Transalpina é mágica e de cenários repletos de misticidade.


Chegámos aos arredores de Novaci no final do percurso e local de pernoita do dia (ver roteiro detalhado aqui). Porque a tarde ainda era uma criança, e porque somos um pouco apanhados da cabecinha, deixámos a bagagem na pequena pousada e decidimos repetir o percurso! Afinal, subir a Transalpina é diferente de descer. Valeu cada quilómetro.
Informações práticas sobre a Transalpina
Datas de abertura
A Transalpina é um percurso de alta montanha que se encontra encerrado na maior parte do ano devido à neve. 1 de Junho a 31 de Outubro é o período oficial de abertura da estrada, pelo que para uma viagem pela Roménia com a garantia de a percorrer deve ser programada para estas datas. Consulte aqui o site oficial com todas as informações regularmente actualizadas.
Bombas de gasolina
Abasteça o depósito de combustível nos extremos iniciais do percurso. Durante muitos quilómetros não encontrará bombas de gasolina. Tendo em conta que se prolonga por mais de 140 km, é necessário garantir boas margens de autonomia.
Pagamento
A passagem pela Transalpina é gratuita e não requer pagamento de qualquer taxa ou portagem.
Qualidade do pavimento
É uma das estradas com melhor qualidade na Roménia e por isso uma das mais permissivas a uma condução descontraída. A estrada foi repavimentada em 2016 no entanto, por todo o percurso ainda decorrem muitas obras associadas. Principalmente as de estabilização de vertentes, que frequentemente sofrem pequenos deslizamentos de terra. Consequentemente, e em alguns locais, a estrada apresenta depressões imperceptíveis ao longe que poderão ser uma ameaça a quem conduz sobre duas rodas. Já sabemos que viajar de mota requer concentração redobrada e pela Transalpina não há excepções. Ride safe and have fun.
Ambiente e circulação
Porque permaneceu durante muitos anos com circulação limitada, a natureza pela Transalpina permanece praticamente intocada e no seu estado mais selvagem. Por lá, o ambiente emana uma beleza rara e um charme especial que poucos lugares no mundo têm. É da nossa responsabilidade garantir que assim se mantêm. Que o rasto da nossa passagem seja unicamente o som do ecoar dos nossos motores.
Sugestão de alojamento na Transalpina:
Sugestão de restaurante na Transalpina:
Porque assim que iniciar a travessia pela Transalpina não terá muitas oportunidades para uma refeição, recomendamos um pequeno restaurante pelo caminho. Localizado nos quilómetros iniciais do lado norte, onde tivemos oportunidade de saborear uma bela refeição com vistas para o Lago Barajul: Popasul Regelui Transalpina.
Mapa detalhado do percurso pela Transalpina
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar como preferir.
Assim terminamos mais um artigo sobre a nossa aventura rumo à Roménia na Europa de Leste. Em breve partilhamos mais detalhes sobre fantásticos locais pelo país, assim como estradas de montanha a não perder.
Consulte aqui os nosso artigos já publicados sobre a viagem de mota pela Roménia:
- Roteiro de viagem de mota pela Roménia
- Transfagarasan, a estrada mais famosa da Roménia
- Rota pelos Mosteiros de Bucovina, Ciurmarna Pass e Transrarau no Norte da Roménia
Mais uma vez, Excelente crónica de Viagem! Parabéns!
Por razões profissionais, já estive muitas vezes em Alba Julia, a Norte, mas nunca tive oportunidade de percorrer esta estrada. Da próxima, não vou perder a oportunidade, ainda que seja de carro….
Obrigado pela Partilha das Vossas apaixonantes Viagens!!
Sempre desse lado a motivar-nos a continuar José Morgado. Muito obrigado por nos acompanhar desde o inicio! A Transalpina é fabulosa, e se tiver essa oportunidade, mesmo de carro não deve perder! Um mundo à parte na Roménia. Boas curvas 😉
Excelente artigo pessoal! É tão bom ver artigos que mostrem a beleza da Roménia e que é ainda desconhecida por muitos. Eu (Ioana) sou suspeita pois sou romena, mas adoro este país que tem paisagens incrivelmente lindas!
Obrigada por esta partilha e continuação de boas viagens!
Muito obrigado pelo comentário Ioana! Adorámos a Roménia e voltaremos sempre que podermos! Lindo país
Grande percurso e paisagens fantásticas. Não somos muito de andar de moto, o mais perto que tivemos foi scooter 🙂 A Europa de Leste tem sítios incríveis e de certeza que pouco turísticos.
Verdade! Adorámos a Roménia e percorrer todos os locais fabulosos que por lá se encontram. Sentimos que na maioria, os tivemos só para nós! As grandes massas turísticas ainda não chegaram 🙂
Obrigada por nos fazerem viajar convosco através do poder da escrita! Um excelente artigo, muito bem escrito!
Adriana
Muito obrigado pelo comentário Adriana!! Incentiva nos a continuar sempre 🙂 Felicidades!
Que bela viagem. Estive há uns anos na Transilvânia, mas apenas em zonas urbanas, Sibiu, Sighișoara, etc, mas fiquei com vontade de conhecer mais. Vou ficar com esta zona debaixo de olho para quando voltar à Roménia. Só não vou é de moto 🙂
Vale a pena Jorge! Boas viagens 😉
Não fiz este percurso, mas a minha viagem à Roménia foi toda ela uma agradável surpresa. Continuem o bom trabalho, belo post 🙂
Muito obrigado Inês!! Boas viagens 😉
Fotografias incríveis e texto fantástico!! Deixaram-nos com (ainda mais) vontade de visitar a Roménia!! 😀
Que bom!!! A Roménia é linda!