E como surge uma viagem pela Macedónia do Norte? Bem, porque vindos de um roteiro pela vizinha Albânia, não poderíamos deixar os Balcãs sem a incluir. Com a certeza de que deixámos muito por ver, centrámos o nosso percurso em torno do famoso Lago Ohrid e o Lago Prespa. Deixando muitos motivos para regressar ao país, e explorar o muito mais que a Macedónia do Norte tem para oferecer.
Tal como a Albânia, também em ano de pandemia as restrições na Macedónia do Norte eram poucas ou inexistentes. Embora os nossos dias tenham sido maioritariamente destinados à Albânia de ponta a ponta, este é um destino obrigatório quando se está ali tão perto visitando o interior albanês.

Sobre a Macedónia do Norte
A Macedónia do Norte é um país localizado no sudeste da Europa, integrado nos Balcãs e cuja capital é a cidade de Escópia. É um dos estados sucessores da antiga Jugoslávia, e apenas em 1991 declarou a sua independência. Faz fronteira a noroeste com o Kosovo, a norte com a Sérvia, com a Bulgária a este, Grécia a sul e Albânia a oeste.
A geografia do país é fortemente definida por montanhas, vales e rios, o que lhe conferem um grande potencial para desfrutar de um roteiro panorâmico em duas rodas. A beleza deste país montanhoso inclui cidades tranquilas e exuberantes parques naturais. Com um passado histórico atribulado na disputa de território, por ali passaram uma encruzilhada de culturas. Romanos, bizantinos, venezianos, sérvios e otomanos construíram um país rico em história. Apesar da sua pequena dimensão, a Macedónia do Norte é uma joia arquitectónica.


Lago Ohrid
Ohrid é um dos mais profundos lagos dos Balcãs, e também um dos mais antigos do mundo. Alimentado pelo lago Prespa a sudeste, o lago Ohrid drena as suas águas para o rio Drin Negro, que segue um majestoso curso até desembocar no mar Adriático. Na nossa viagem entre a Macedónia do Norte e a Albânia, teremos a oportunidade de percorrer algumas das estradas que o acompanham nessa odisseia.
O lago cede também o nome a uma das cidades que cresceu com ele a seus pés. Ohrid é aquela que pode ser considerada como a capital turística da Macedónia do Norte. Mas muitas outras salpicam as margens do lago. É repleto de aldeias medievais com um preservado centro histórico, mosteiros bizantinos e fortalezas da antiguidade. Sempre de olho na vizinha Albânia, com quem partilha uma parte das suas águas.


National Park Galichica
Sem saída para o mar, a subida às montanhas do National Park Galichica fazem-nos esquecer esse pormenor da geografia da Macedónia do Norte. Revela a imensidão das águas do Lago Ohrid que se confunde com o oceano sem fim. Estas, definem uma fronteira natural entre os grandes lagos Ohrid e Prespa. Magaro é seu pico mais alto que atinge os 2255 metros de altitude e, claro está, que esta subida representa um dos melhores roteiros panorâmicos do país para percorrer de mota, entre curvas e contra curvas.
Apesar de à superfície Ohrid e Prespa terem entre eles a gigante barreira rochosa das montanhas cálcárias de Mangaro, o mundo subterrâneo faz a sua magia. É através dele que as águas escoam pelas galerias de Prespa para Ohrid, uma das maravilhas do mundo cárstico.
Apresentada a região em modo resumido, é hora de seguir sobre rodas para um roteiro de viagem de mota pela Macedónia do Norte, entre os dois grandes lagos que a embelezam.



Roteiro de viagem pela Macedónia do Norte (em torno do Lago Ohrid e Prespa)
Vindos de Pogradec, na Albânia, entrámos na Macedónia do Norte já no final da tarde. Depois de um dia de viagem de mota pelo interior albanês, pouco passava das 5 horas da tarde quando cruzámos a fronteira. Uma paragem para conhecer o St. Naum Monastery e seguimos à beira lago para Ohrid. Num dia cinzento e chuvoso, uma neblina persistente conferia um ar misteriosamente belo a toda a região que no dia seguinte exploraríamos de ponta a ponta.
Dia 1 Ocrida – Bitola 150 km ( 3 horas de condução em estradas secundárias)
São 6 horas da manhã e o sol já brilha. Acordamos com aquela esplendorosa luz matinal que ilumina o imenso Ohrid a nossos pés. Da janela do nosso quarto, na Velestovo House, é o azul luminoso do lago que sobressai no horizonte. Dormimos numa das encostas das montanhas do National Park Galichica.
No final de um roteiro circular abrangendo as duas regiões, voltaríamos no final do dia a Velestovo, a mesma aldeia onde pernoitámos. Criámos um roteiro circular para aproveitar a região enquanto descansamos duas noites no mesmo local. Não tendo de, diariamente, fazer e desfazer as malas da mota.
Bay of Bones
”Bay of Bones” foi a primeira paragem do dia. Um museu por cima da água que recria o assentamento pré-histórico que há milhares de anos ali ocupava mais de 8000 metros quadrados. Casas feitas de lamas, madeiras e palha estão construídas numa plataforma de madeira, cujos pilares originais ainda podem ser vistos mergulhados nos tanques do museu. Dada a hora da nossa alvorada, chegamos ao local muito tempo antes de abrir.
Em viagem perdemos a noção dos dias, e das horas. Com o sol já tão enérgico não diríamos que ainda eram 8 da manhã. Encontramos por sorte uma senhora que ali trabalha. Perguntamos se a entrada é livre e se podemos entrar.
– Só abre às 10h! Diz ela. Eu e o João olhamos um para o outro pensando em voltar mais tarde, tendo em conta que dormiríamos novamente ali ao lado.
– Não se preocupem, façam a visita à vontade. Afinal já estão aqui agora. Disse ela fazendo-nos uma gentileza. O povo da Macedónia é igualmente acolhedor e simpático como o albanês. Com a diferença de que por aqui aqueles carros sinistros que assumimos serem da máfia desapareceram assim que cruzámos a fronteira. Mas, de qualquer forma, importa salientar que não incluímos esses na nossa classificação de povo albanês.




National Park Galichica
Seguimos para pela estrada de montanha P504, a passagem de montanha que une o lago Ohrid ao lago Prespa para um roteiro panorâmico ora em altitude, ora à beira lago. A entrada tem um custo de 1 eur que pagamos ao porteiro que se abriga numa pequena casinha de madeira na entrada do percurso.
A estrada, feita de mil e uma curvas, inicia o seu traçado numa densa floresta com um túnel verde natural a ladear-nos. Ora com trechos de bom pavimento, ora com trechos que se assemelham à superfície lunar. O percurso compensa a irregularidade do piso com a mais bela vista da região. Do alto da montanha, o lago Ohrid perde-se no horizonte. De um lado está a Macedónia, do outro lado estão as imensas montanhas dos Alpes Albaneses, para onde seguiremos depois.




Heraclea Lyncestis
As duas noites na região tinham um propósito adicional: conhecer as ruínas e os mosaicos romanos de Heraclea Lyncestis, no sopé do Monte Baba que remontam ao século 4 a.C.
– João achas que os mosaicos de Bitola vão estar cobertos de areia? Perguntava eu. Afinal, nas de Butrint, na vizinha Albânia, os mosaicos romanos estavam cobertos de areia (dizem ser por protecção) e o desânimo de não os poder ver foi grande. Fiquei danada pronto!
Era hora de almoço. O ambiente pelas lojas e restaurantes da Macedónia, ao contrário do que esperaríamos, é bem diferente do albanês quando de limpeza e higiene se fala. Com receio de uma aventura gastronómica, fomos a um grande supermercado de Bitola. E ali mesmo fizemos o nosso piquenique improvisado, deixando para o jantar a procura de um bom restaurante para uma refeição. Em pouco tempo tínhamos dois cães à nossa volta, com quem partilhámos o petisco.



Viagem pela Macedónia do Norte e fado português
Assim que entrámos no complexo arqueológico encontrámos o Victor. O responsável pelas visitas que ouvia fado sentado à sombra de uma nogueira gigante, rodeado de gatos. A melodia da música da Marisa ouvia-se ao longe e o Victor, apesar de não perceber nada da língua portuguesa ouvia-a com prazer. Metemos conversa de imediato.
Depois de uma visita com uma fabulosa explicação histórica do Victor enquanto víamos os mosaicos descobertos, seguimos para o seu pequeno escritório. Tínhamos de lhe apresentar, e explicar, o significado da nova música da Ana Moura e a sua ”As Andorinhas”. É bom encontrar um pedacinho de Portugal pelo mundo.
Centro histórico de Ohrid
Chegámos a Ohrid ainda não eram 4 horas da tarde para deambular pelas suas ruas movimentadas, conhecer as igrejas e a fortaleza. Notamos ali de imediato uma cidade construída com o padrão árabe. Ao longo de uma rua central empedrada, desenvolve-se o comércio de todo o tipo de produtos até que uma mesquita com localização central se destaca.
Despimos os fatos de motociclistas, que ficaram nas malas vazias da nossa mota, e seguimos turistando pelas dezenas de ruas do centro histórico da cidade de Ohrid.


O que visitar em Ohrid
- Igreja Saint John the Theologian
- Ancient Macedonian Theatre Ohrid
- Holy Mary Perybleptos
- Igreja de Saint Sophia
- Varosh Old Town Ohrid
Alojamento em Ohrid
Abaixo partilho os alojamentos que ponderámos e visitámos durante a nossa estadia. Visitámos o Villa Varosh, no centro histórico de Ohrid por ser o melhor localizado para explorar a cidade a pé. Tem excelentes condições, e uma bela vista lago, mas o parque para as motas é na rua. O centro histórico tem livre trânsito para motociclos e existem muitos de todas as cilindradas gratuitamente estacionados pela cidade antiga.
Seguimos para a Velestovo House que foi a nossa opção para uma estadia de 2 noites na noss viagem pela Macedónia do Norte. Localizado a cerca de 4km do centro numa pequena aldeia aninhada nas montanhas, tem uma das melhores vistas para o Lago Ohrid e foi a nossa opção. O parque é privado mas também é de rua. Por ser localizado numa aldeia ficámos mais tranquilos em relação ao estacionamento.
O Lago Ohrid é repleto de pequenas praias que fazem as maravilhas dos visitantes nos dias de Verão. Por isso, o Villa Mina é o alojamento ideal para aproveitar uns mergulhos no lago tendo em conta que se localiza a poucos metros da praia.
- Velestovo House ( Com vista lago e a 4km do centro de Ohrid)
- Villa Varosh (no centro histórico de Ohrid com parque de rua)
- Villa Mina (a 10 km do centro de Ohrid, com parque privado e junto à praia)
Restaurante em Ohrid
Conseguem encontrar o restaurante Ресторан Света Софија?! Pois é! Nós também não e o cartão que nos deram era esse o nome que tinha. Felizmente também dizia que era ao lado da Igreja de Saint Sophia e já conseguimos decifrar. Traduzindo, é o Restaurante Sveta Sofija que recomendamos para uma refeição saborosa no centro histórico da cidade. O preço, rondou os 20 eur para bebidas, entradas, sopa, prato principal e sobremesa para duas pessoas e todos os funcionários são de muita simpatia.
Apesar de ser localizado no centro histórico com trânsito condicionado, esta é uma das vantagens de ir de mota: podemos estacionar à porta porque as duas rodas não estão sujeitas a restrições.

Dia 2 – Ocrida – Kukes 220 km ( 4 horas de condução em estradas secundárias)
Ainda que pela Macedónia do Norte hajam ainda muitos lugares que deixamos por conhecer, o nosso roteiro leva-nos a entrar novamente na vizinha Albânia para explorar as estradas que rodeiam o Monte Korab, a montanha mais alta do país.
A temperatura pelas 8 horas da manhã ronda os 22 graus e o sol já brilha avivando o azul do lago Ohrid, que ali se vê de toda a parte. Seguimos em direcção a Strugga, outra cidade à beira lago até entrar no coração do vale do rio Drinn Negro.
Estamos na estrada R1201 a caminho do Parque Nacional do Mavrovo e o rio, cujo nome o confirma, é realmente negro. De águas calmas, escuras e que espelham o denso arvoredo que prospera nas suas margens. A estrada, de qualidade excepcional, prolonga-se paralela ao seu curso para nos maravilhar com um dos percursos panorâmicos mais belos do país. A entrada na Albânia é feita em poucos quilómetros, terminando nesta região este curto roteiro de 2 dias pela Macedónia do Norte. Até à próxima!

Informações práticas para um roteiro de viagem pela Macedónia do Norte
Moeda
A moeda é o Dinar macedónio mas o euro é aceite na maioria dos locais. Quando fazemos pagamentos em euros, o troco é dado geralmente na mesma moeda. Em qualquer multibanco do país é possível levantar dinheiro facilmente, assim como trocar euros pelas inúmeras casas de câmbio. 1 Eur são nesta data aproximadamente 60 MKD mas para consultar a conversão actualizada consulte aqui.
Roaming e wi-fi
A Macedónia do Norte está numa zona do mundo onde as operadoras cobram pequenas fortunas pelas chamadas, mensagens e acesso à internet. Nas zonas mais turísticas o acesso às redes wi-fi nos restaurantes e serviços é simples e garantido. Por sua vez, nas zonas mais remotas, que ainda representaram a maioria do nosso roteiro, o wi-fi não é garantido e por vezes nem a rede móvel. Como tal, viajar pela Macedónia do Norte a fazer conta com o acesso não é aconselhável.
Nas grandes cidades existem lojas da operadora Vodafone que vendem cartões de dados móveis por um bom preço (cerca de 15eur por 10Gb), mas foi algo que não quisemos comprar. Afinal, já viajávamos antes de haver estas facilidades e aproveitámos a Macedónia do Norte para desligar a mente do mundo tecnológico. Mas para quem necessitar aqui fica a informação.
Clima na Macedónia do Norte e a melhor altura para visitar de mota
O clima na Macedónia do Norte é tipicamente mediterrâneo nas zonas costeiras e continental com grandes variações de temperatura nas montanhas.
No interior montanhoso as temperaturas médias no Verão rondam os 25º mas no Inverno descem aos 0º e com extremos que podem chegar aos -25ºC. O relevo acidentado da Macedónia do Norte define que nas zonas de montanha a neve e o vento estão presentes e a proximidade ao Adriático confere-lhe dos invernos dos mais chuvosos da Europa.
Por este motivo, consideramos que os meses de Maio a Setembro serão os mais indicados para uma viagem de mota pelo país. Sendo que para evitar as épocas de maior calor, excluir o Julho e o Agosto é a melhor maneira.
Custo de vida
A Macedónia do Norte é um dos países que já visitámos com um custo de vida mais baixo e um dos mais baratos da Europa. Por lá é possível comer uma boa e farta refeição, num bom restaurante, por menos de 10Eur por pessoa. Os alojamentos, apesar de haver para todas as carteiras, rondam em média os 30eur por noite, mas a partir de 15Eur já é possível encontrar um quarto.
Os acessos aos monumentos são o contraste ao nível de vida do país, com uma média de 8eur por pessoa por um bilhete para um qualquer local de interesse histórico.
Bombas de gasolina
Existe uma boa rede de bombas de gasolina pelo país. Mas no interior do país, menos povoado, é recomendável abastecer com boas margens de autonomia. Ver aqui o preço do combustível na Macedónia do Norte.
Controlo de fronteiras
A Macedónia do Norte, assim como todos os países dos Balcãs, tem as suas fronteiras bastante controladas. Seja uma fronteira movimentada e localizada numa rota de muito movimento, seja numa nos confins do país onde vivalma raramente passa, existe sempre uma barreira de segurança e uma infra estrutura de controlo fronteiriço. Neste momento é um país livre de restrições sanitárias, mas como podem mudar a qualquer momento, aqui mais informação para conhecer as medidas em vigor.
Documentos necessários
Os documentos necessários e controlados na fronteira são o cartão de cidadão ou passaporte, os documentos da mota e o seguro com a carta verde válida para circular no país. Apesar de a Macedónia do Norte não ser membro da União Europeia, o acordo com a mesma dita que para os cidadãos europeus, o cartão de cidadão é um documento válido para entrar no país. A apresentação deste documento em vez do passaporte, resulta apenas de um tempo acrescido a inserir e validar no sistema informático que por definição funciona mais rapidamente com o passaporte.
Apesar do cartão de cidadão ser aceite, temos por hábito nunca viajar sem o nosso passaporte. Nem que seja por possuirmos um documento de identificação adicional, guardado em local separado, em caso de perda.
Dica adicional
No caso do seguro da mota, a nossa carta verde tem a Macedónia do Norte, assim como outros países dos Balcãs (e Marrocos), incluída sem necessidade de pedido de extensão territorial. Caso não seja o vosso caso será necessário tratar do assunto, sendo que algumas companhias costumam dificultar este processo. Em caso de dúvida sobre o tema podem falar com Luís Miguel Fonseca, também conhecido por Piratinha, nosso amigo e mediador: +351 911 936 644.
Língua
A língua oficial do país é o albanês misturado com bulgaro, e qualquer coisa que para nós resulta em chinês. No entanto uma grande maioria dos que trabalham nos serviços falam inglês. Os restantes, é possível comunicar com um bocadinho de português, portunhol e italiano tudo junto na mesma frase. Aquele dialecto estranho que desenvolvemos quando é necessário, mas que no final toda a gente se entende.
Saúde
A Macedónia do Norte é um país pobre, no entanto, existe uma boa rede de clínicas e hospitais privados internacionais espalhados pelas áreas mais povoadas do país. O serviço público deve ter as suas grandes limitações e por este motivo fazemos sempre um seguro de viagem quando partimos à aventura. A Macedónia do Norte não foi excepção. Mais informações sobre o seguro de viagem que contratamos aqui. (Não, a assistência em viagem da nossa mota não é suficiente)
Mapa da viagem de mota pela Macedónia do Norte
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Pretende utilizar este mapa no seu aparelho de navegação e não sabe como o fazer? Consulte aqui o nosso artigo já publicado.