Gap of Dunloe está no coração do Ring of Kerry, no Sudoeste da Irlanda, a poucos quilómetros do famoso Parque Nacional dos Lagos de Killarney. Um percurso que possuiu majestade em toda a sua extensão e de passagem obrigatória em qualquer viagem pela Irlanda.
Um estreito desfiladeiro, entre as imponentes montanhas de MacGillycuddy Reeks e Purple Mountain, irrigado pelas águas que correm no rio Loe. A estrada que o atravessa, extremamente estreita em muitos locais, serpenteia na maioria do percurso e desce até ao Blackvalley, passando por inúmeros lagos que reflectem a paisagem em redor: Coosaun Lough, Black Lake, Cushnavally Lake, Auger Lake e Black Lough.
Aqui, crescem centenas de espécies musgos, conserva-se uma floresta rica e intocada, pastam os rebanhos de ovelhas e contemplam-se algumas das montanhas mais altas do país. Daquelas que nos fazem suspeitar que tocam o céu. Se tocam o céu não sabemos, mas podemos confirmar que esta é uma estrada que nos leva às nuvens.


O percurso por Gap of Dunloe
Vindos de Killarney e de Molls Gap, deixámos para trás o tradicional circuito turístico de Ring of Kerry e seguimos para uma pequena estrada onde o pavimento ameaçava tornar-se inexistente a qualquer momento.
Estudamos sempre os nossos roteiros com afinco. Mas, neste percurso em particular, a informação disponibilizada escasseia. O mapa, mesmo com uma escala de maior pormenor, levou-nos a duvidar se este seria um percurso pavimentado que terminaria algures num trilho da montanha. O que teríamos a perder? Na pior das hipóteses teríamos de manobrar uma mota de touring em circunstâncias pouco confortáveis. Não seria a primeira vez.
Quando a floresta se adensa e quilómetros depois não nos cruzamos com vivalma, somos surpreendidos por meia dúzia de pequenas casas, dispersas num vale imenso e na solidão da natureza selvagem.


Cnoc na Peiste é o cume que nos acompanha a Oeste e nos leva a crer que a estrada por lá termina, tamanha é a parede rochosa que se avista no horizonte. Mas é aqui que a subida se inicia. E, se até então não houve um vislumbre de uma estrada na montanha, aqui entende-se de imediato porquê.
Numa curta extensão, a estrada sobe em curvas de serpentina a uma inclinação superior a 16%. Mal damos por nós estamos no topo, ainda atónitos com a repentina adrenalina que nos invade os sentidos. Esta é daquelas subidas onde não queremos cruzar-nos com um carro em sentido contrário. Inclinada, estreita e extremamente técnica!


No coração de Gap of Dunloe
Chegados ao topo somos brindados por um verdadeiro manjar paisagístico! Que lugar é este? Mágico, cristalino, iluminado por um dia de sol radioso e de arredores que nos transportam para histórias de contos de fadas. Poucas vezes tivemos num lugar assim. Poucas vezes nos sentimos tão arrebatados por tamanha beleza. Mas ali estávamos nós, com a nossa mota estacionada na berma e a apreciar 360º de ângulos fascinantes. Por lá ficámos por algum tempo, sentados nos muros de pedra de pernas esticadas para o riacho a observar as ovelhas.


Entre grandes pedregulhos, que noutro local seriam classificados como grosseiros, ali completavam um cenário divino de aquarela. Rodeados por um riacho de meandros pantanosos, cobertos por uma capa de musgo verde e felpuda, por onde as ovelhas pareciam pastar tranquilamente. O sol, que ainda mal raiara, trazia a luz que nos pequenos charcos de água espelhavam o céu azul e as nuvens brancas.
Chegara a hora de partir, o dia ainda mal começara e já sentíamos que o percurso por Gap of Dunloe nos fizera ganhar o dia, e a viagem à Irlanda. Avançamos lentamente. Tão lentamente quanto possível para contemplar atempadamente a paisagem que se segue. A estrada, rodeada por pequenos muros de pedra por um lado e pelas paredes rochosas do outro, avança à beira de sucessivos lagos.
Os lagos até à Wishing Bridge
É impossível não parar novamente! Estaremos de novo nos fiordes da Noruega? Misteriosos lagos, com a paisagem espelhada, de aspecto tão calmo e sereno, remetem-nos à nossa viagem pelo país dos Trolls.



Seguem-se alguns quilómetros, continuando por uma estreita estrada onde a erva cresce no meio. Um sinal de que aqui o movimento é quase inexistente e a azáfama turística do Ring of Kerry, deixa para trás um dos seus mais preciosos locais.
Partilhamos o local com algumas carruagens, que naquela hora começam a surgir com mais intensidade. Todas vindas de Kate Kearney’s Cottage, no extremo norte do percurso, onde podem ser alugadas para um passeio. Entendemos de imediato o estrume escorregadio espalhado ao longo de grande parte do percurso.
Chegamos à pequena ponte de pedra tão famosa em Gap of Dunloe: Wishing Bridge (A Ponte dos Desejos). É hora de pedir um desejo e guardar só para nós para que se concretize! Qual terá sido o nosso? Não dizemos. Faz parte da magia.


Dicas práticas
♦Visitar Gap of Dunloe será sempre mais agradável se for destinado para as primeiras ou últimas horas do dia. Período em que as carruagens deixam de passear turistas. Se possível, destine a sua passagem antes das 9h da manhã ou depois das 17h da tarde.
♦ O percurso por Gap of Dunloe exige concentração redobrada na condução. Em grande parte da sua extensão são inúmeros os factores que nos podem surpreender: animais selvagens, deformações no pavimento, estreitamentos, carruagens, cavalos, ovelhas, etc. Assim que iniciámos a travessia, deparámos-nos com uma placa de sinalização com inúmeros alertas. Tantos que seriam impossíveis de ler em andamento. Chamámos-lhe a placa do ” Pensa rápido” e no final parámos junto dela para a ler atentamente… e rir!


Mapa do Percurso pela Gap of Dunloe
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe.
Total de quilómetros do percurso: 20 km
Tempo aconselhado: 1 hora
Muito Bom! Mais Uma Vez, Obrigado aos Câmara!!
Obrigado José Morgado! beijinho e abraço 😉
Alô! É possível fazer esse trajecto de carro? Estamos perto de Killarney e com uma vontade enorme de evitar a turistada, mas estamos de carro! Obrigada 🙂
É possível sim! Desfrutem e vão cedo