Parece que já estou a imaginar o que se passará por essas mentes: ” Com tanta opção de GPS hoje em dia, porque terei eu de carregar e saber utilizar um mapa de estradas em papel?” Bem, quanto mais não seja, porque dizem por aí que o saber não ocupa lugar. Mas, para nos tornarmos mais convincentes, o melhor mesmo é enunciar os vários motivos para ainda utilizar um mapa de estradas em formato papel.
Já faz algum tempo que iniciámos esta nossa odisseia de nos tornarmos bloggers de viagem e partilharmos, aqui no Quilómetro Infinito, tudo o que sabemos da melhor forma possível. Como tal, com tantas conversas entre tantos que nos pedem ajuda, chegamos à conclusão que este é um ponto em que temos de esclarecer: como utilizar um mapa de estradas em papel, o método pré-histórico de orientação.
Vantagens de utilizar um Mapa de Estradas
✅Na fase de preparação de viagens
A minha predilecção por mapas de papel é já bem conhecida entre muitos amigos e familiares. Na minha mente estão os nomes das mais pequenas aldeias ou os percursos mais retorcidos, gravados em detalhe como se os tivesse percorrido ontem. Na minha estante, todos os mapas já utilizados, guardados com especial carinho que começam já a conquistar o seu lugar de destaque, à medida que se acumulam de ano para ano.
Numa era digital em que a tecnologia coloca quase tudo ao nosso alcance, também eu já tentei preparar as nossas viagens sem utilizar um mapa em papel. Escusado será dizer que desisti de imediato. Dá-me aquele nervoso miudinho de não poder abrir o mapa e pendurá-lo na parede do meu escritório, olhando-o num plano geral e absorvendo toda a informação que ele tem para me dar, ali tão resumida.

✅ No decorrer das viagens
A utilização de mapa de estradas em papel durante as viagens gera normalmente muitas opiniões divergentes. Nós, mantemos-nos fiéis à nossa experiência e à nossa necessidade absoluta de carregar os mapas nas nossas bagagens.
Com pelo menos um mapa nacional e vários regionais, o nosso percurso definido está devidamente traçado sobre os mapas, com canetas fluorescentes para permitir uma rápida interpretação. Traçamos todas as etapas diárias, alternando as cores entre os dias, para que nos seja mais fácil localizar sempre que ao mapa tivermos de recorrer.
Utilização conjunta de mapa em papel /GPS
Começámos por fazer grandes viagens sem recurso a GPS. Por isso, os mapas foram sempre os nossos companheiros de aventura. Hoje em dia, rendemos-nos à facilidade de ter um método de orientação adicional, com todas as vantagens que o GPS nos oferece. No entanto, unimos o melhor do método tradicional com os meios mais modernos e conjugamos harmoniosamente a sua utilização.
A verdade é que jamais nos deixaremos guiar completamente por um pequeno aparelho desprovido de cérebro próprio. O pequeno aparelho que nos facilita em inúmeras situações, também tem a capacidade de nos confundir se falhar por momentos. Quando isso acontece, paramos a mota e consultamos o mapa em papel, que de imediato nos esclarece qual o rumo a seguir (uma bússola também faz parte da bagagem pois, em caso de desnorteio total, conhecer os pontos cardeais é fundamental).
Noruega, Marrocos, Andaluzia ou Sardenha, foram algumas das viagens onde tivemos peripécias com o GPS. Receber uma indicação distinta ou falhar por alguns quilómetros um percurso pré-definido pode ser sinónimo de muitos quilómetros extra e/ou perder alguns dos locais fundamentais de passagem. É por isso que as minhas antenas de pendura viciada em mapas estão sempre alerta para as instruções do GPS.
⚠️ Nem sempre o smartphone funciona
‘‘Ah e tal… mas então também temos o Google Maps no smartphone que funciona em offline e tudo!’‘ Pois temos! Mas acreditam em nós? Quando surgem contratempos são normalmente nas piores alturas. Daquelas em que o mundo conspira e existem forças que se reúnem para que o smartphone esteja sem bateria, ou sem rede móvel e o tal powerbank (carregador portátil) tenha ficado nas malas no hotel. Ou, como já nos aconteceu, simplesmente o Google Maps decide não colaborar e não carregar os mapas na altura que mais precisamos. Nestas ocasiões, uma vez mais, lá estão os nossos preciosos mapas em papel a salvar o dia.
Mudança de planos repentina
E se nos apetecer desviar uma rota ou adicionar algum local ao nosso roteiro? Acontece algumas vezes em viagem termos de mudar algumas passagens pré-definidas. Olhando para o mapa, sabemos em pouco tempo as nossas opções, as estradas alternativas, distâncias entre elas, etc.
Por exemplo, durante a nossa viagem à Roménia, vários dias do nosso roteiro foram alterados devido às condicionantes de circulação na estrada Transfagarasan. Parece que assim de repente, informaram que a estrada estaria fechada por alguns dias, para uma marca de carros ir fazer testes de desempenho no seu contorcido percurso.
Assim que soubemos, estendemos o mapa sobre a cama do hotel e em poucos minutos alterámos o roteiro de forma viável. Estávamos numa das aldeias mais remotas da Transilvânia (sem wi-fi e pouca rede móvel), na região centro do país. Assim, visitámos primeiro a capital, Bucareste, regressámos pelo Vale do Rio Olt e voltámos finalmente à famosa Transfagarasan.
Informação disponível num mapa de estradas
Utilizar um mapa de estradas em papel é ter sempre ao alcance, toda a informação que necessitamos para viajar e percorrer quilómetros infinitos. Não, não é absolutamente necessário GPS para viajar. Afinal, como faziam antigamente os aventureiros sem o pequeno aparelho a dar-lhes ordens? O GPS é sim uma mais valia em termos de comodidade, mas será sempre importante saber avaliar as suas instruções com espírito crítico. Para o utilizar devidamente é necessário todo um trabalho anterior para descobrir o que lhe vamos pedir para seguir. E aqui os mapas em papel continuam a ser uma preciosa ajuda, pois neles encontramos:
1 – Rotas panorâmicas e pequenas estradas que só encontramos o Google Maps depois de fazer muito zoom (ex: Sky Road ou Gap of Dunloe)
Olhando para o excerto do mapa abaixo e fazendo uma breve interpretação, conseguimos distinguir de imediato as rotas panorâmicas existentes sombreadas a verde (sim, no caso da Irlanda são quase todas) e as pequenas estradas que mal se notam representadas a preto e branco. Sky Road ou Omey Island, dois locais que nos escapariam se não tivéssemos olhado para o mapa quando destinámos a nossa passagem pelo Connemara National Park.
Dica: Apesar das pequenas estradas apenas traçadas de preto e branco, não se encontrarem com o sombreado verde que indica serem uma rota panorâmica, saiba que na maior parte das vezes são os melhores percursos que encontramos. Apenas por uma questão de pormenor de escala não se encontram tão destacadas como as outras. Mas convém dar-lhes sempre o benefício da dúvida.
2 – Informação do Número e Tipo de Estrada
No que ao tipo de estrada diz respeito e consultando o mapa abaixo com respectiva legenda, é possível antever que o percurso é feito de itinerários principais e regionais, todos com estrada pavimentada, assim como as devidas distâncias entre si (números impressos a vermelho).
Ainda considerando o mapa abaixo e referindo os pequenos pins a vermelho, saiba que estes unem grandes ou pequenas cidades. Os números entre eles dispostos correspondem à distância entre elas, geralmente indicada em quilómetros ou em milhas, consoante o mapa.



3 – Zonas de parques naturais, Miradouros, locais de interesse histórico e natural
Monumentos megalíticos, castelos, mosteiros e outros locais de interesse para o visitante. Todos eles devidamente assinalados nos mapas de cada local, permitindo-nos em pouco tempo descobrir onde temos de passar! Durante a nossa viagem pela Andaluzia, visitámos o fantástico Parque Megalítico de Gorafe, cuja existência nos era desconhecida. Com o olhar mais atento ao mapa da Andaluzia, traçámos por lá um roteiro que se revelou dos mais espectaculares que fizemos (info aqui).

4 – Informação do relevo existente
O fundo dos mapas em papel oferece uma importante informação sobre o relevo das regiões contempladas. Sabemos de imediato se passaremos por uma região montanhosa (onde normalmente estão aquelas estradas que procuramos) ou por uma zona de planaltos e lagoas.
Considerando o excerto do mapa abaixo, é possível identificar as saliências acinzentadas no fundo, que indicam a zona montanhosa do The Burren National Park, na Irlanda. Junto à costa, encontramos a representação que nos confirma que estamos numa zona de grandes falésias. E estamos mesmo! São nas Cliffs of Moher, uma das escarpas mais altas do mundo.

5- Informação de regras de trânsito dos países contemplados
Nem todos os países têm as mesmas regras de circulação nas estradas. Como tal, recorrer ao mapa para relembrar as regras de cada país individualmente é, mais uma vez, uma forma de obter informação fidedigna e resumida em pouco tempo.

Informação prática sobre os Mapa de Estradas
1. Marcas de Mapas de Estradas
Existem no mercado inúmeras opções de mapas de estradas em papel, nós pessoalmente, destacamos 3 em particular pela qualidade de edição, informação disponibilizada, escalas disponíveis e formatos práticos:
2. Tipos de Mapas de Estradas
Dentro do universo da cartografia de estradas, os mapas Michelin são para nós senhores da variedade. Disponibilizam vários tipos de mapas, de escalas mais abrangentes às mais detalhadas, cartografando regiões e países, e dando-nos a descobrir estradas e locais de interesse com uma qualidade irrepreensível. Existem vários tipos de mapas:
Mapas Nacionais
Na categoria de mapas nacionais encontramos os mapas que integram todo o território dos países eleitos. Existem mapas nacionais que incluem a cartografia de apenas um país e outros a de vários. Por exemplo, o Mapa de Portugal ou o de Portugal e Espanha no mesmo mapa. No segundo, inevitavelmente a escala de menor detalhe e portanto terá menos informação.
Mapas Regionais, Mapas Locais, Mapas de Zoom
Além dos mapas nacionais, existe uma infinita variedade de mapas e, eleger um deles, depende apenas do seu destino e dos locais que irá explorar. Assim, nos mapas regionais, locais ou de zoom, existe uma diferença importante quando comparados com os mapas nacionais: a escala de impressão permite maior detalhe e a informação é muito maior do que num mapa nacional. É aqui que descobrimos aquelas estradas mais preciosas! Aquelas que na maioria dos mapas mais abrangentes não aparece ou quase não se nota.
Por exemplo:
Quando viajámos de Portugal para o sul de Espanha na Andaluzia, comprámos os seguintes mapas:
- Mapa Nacional Michelin Portugal e Espanha (porque nos dá a informação geral de todo o caminho a percorrer)
- Mapa Regional do Sul de Espanha, Andaluzia (porque nos dá a informação detalhada de todo o local a explorar)
Mapas das Grandes Cordilheiras Montanhosas
A grande cordilheira montanhosa dos Alpes atravessa inúmeros países e estende-se por quilómetros e quilómetros no centro da Europa. É por lá que se concentram algumas das melhores estradas do mundo, do universo motociclístico e não só. Também para qualquer amante de estradas panorâmicas e da natureza no seu estado mais soberbo.
Assim, um dos mapas de estradas de grande utilidade para descobrir os passes alpinos menos divulgados, é a edição da Marco Polo exclusiva aos Alpes. Se planeia uma viagem de mota aos Alpes, esta será uma ferramenta de grande ajuda, antes e durante o passeio.

3. Como comprar um mapa de estradas
Porque estão cada vez mais em desuso, é também cada vez mais difícil encontrar mapas nos locais onde até então abundavam: bombas de gasolina, livrarias, etc (especialmente em Portugal). Assim , recorremos à internet para comprar online e aguardamos que cheguem à nossa caixa do correio. Usualmente utilizamos o site da Amazon.es, que cobra valores razoáveis de portes e entrega em poucos dias úteis (média 5 dias).
Se viajar para Marrocos e quiser encontrar o mapa online, escreva na caixa de pesquisa do Google ou do Amazon: Mapa Michelin de Marrocos (em Português), ou Marruecos Mapa (em Espanhol), ou Morocco Map (em Inglês). Assim, alargará as possibilidades de pesquisa e as opções disponíveis para encontrar a edição mais recente. Por exemplo aqui, a edição de 2018 do Mapa de Marrocos.
No caso dos mapas Michelin, todos eles estão individualizados através de um código único que define a zona que representam (geralmente indicada na capa no canto superior direito/esquerdo). Conforme os mapas abaixo, o mapa de estradas de Portugal está representado no código 733 e o mapa de Espanha Noroeste no 571, e assim sucessivamente para cada um.
4. O que ter em conta para comprar um mapa de estradas
- Ano de edição (compre a edição mais recente para que a cartografia seja a mais actualizada possível e inclua as novas estradas)
- A melhor escala (comparando mapas nacionais de várias marcas, compre o que tenha a escala maior e por isso mais detalhes)
E porque o conceito de escala maior e escala menor cria alguma confusão, explicamos brevemente para que possa entender a diferença:
Escala 1 : 400 000 ⇒ 1cm no mapa corresponde a 4 km na realidade
Quanto Menor o denominador = Escala Maior = Maior detalhe = Menor área abrangida
Escala 1 : 1 000 000 ⇒ 1cm no mapa corresponde a 10 km na realidade
Quanto Maior o denominador = Maior área abrangida = Escala Menor = Menor detalhe
Terminamos aqui esta nossa pequena partilha sobre mapas de estradas. Aqueles que consideramos companheiros fundamentais em todas as viagens que fazemos, pequenas ou grandes.
Consulte aqui todas as nossas As nossas opções de orientação e navegação em viagens de mota
Sou do Vosso Club. Tenho aderido aos mapas digitais para ajudar a preparar as viagens, mas não consigo viajar sem um mapa físico. Os GPS/Smartphone são muito úteis, mas muito mais falíveis que um mapa físico. O ideal é mesmo usar os dois métodos.
AH, já não me sinto tããããão estranha!Adoro os mapas “velhinhos” e obrigada por tantas dicas
Ehehe compreendo o sentimento..às vezes também me sinto estranha por ainda usar mapas eheh
Nem mais nem menos…..
Por cá também se utiliza o melhor dos dois mundos digital e de papel….
Boas viagens
Muito obrigado e igualmente 🙂 o bom e velho mapa eheh
Estou a tentar preparar uma viagem de Vila Real a Portalegre, ida e volta, têm alguma sugestão, de moto e por nacionais?
Obrigado
António
Sim António, consulte em https://quilometroinfinito.com/category/viagens-de-mota-por-portugal/. Há muitas boas opções. Boas curvas 😉