Mais de quatrocentas ilhas giram em redor da Grécia Continental. Rodes, Míconos, Milos e Santorini são apenas alguns dos nomes mais sonantes. São tantas as combinações para traçar uma rota nas ilhas gregas que o melhor plano é deixarmo-nos levar pelo instinto. E qual o primeiro instinto de um motociclista pela Grécia? Criar um roteiro de estradas de sonho por entre praias paradisíacas e muitas montanhas. Com paragens sempre que possível para testemunhar a suculenta gastronomia. Surge um roteiro de viagem de mota pela Ilha de Creta, na bela Grécia, uma das jóias do Mediterrâneo. Afinal, montanhas não faltam e são elas as principais responsáveis pela criação das estradas que nos revelam traçados sinuosos entre paisagens inesquecíveis.
Creta é, para nós, com a excepção das ilhas do mar Jónico (Cefalónia, Lêucade e Corfu), uma das poucas ilhas gregas onde vale a pena fazer uma viagem de ferry para poder por lá viajar de mota. O elevado preço das travessias, e o pouco território para explorar, são os factores fundamentais que nos fazem deixar as restantes para uma viagem noutro registo, longe da logística de um motociclista.
Um dos melhores destinos mototurísticos de sempre: de mota pela Ilha de Creta, Grécia
A ilha de Creta é um dos melhores destinos mototurísticos que encontrámos até à data. Repleta de estradas sinuosas que rasgam as montanhas em curvas infinitas sempre de olho no mar. Enquanto o turismo em massa se centra na parte oeste da ilha, entre estâncias de luxo e resorts sucessivos, o território que resta permanece inexplorado e com muito pouco movimento.
É por isso que lhe dedicamos um roteiro exclusivo, e recomendamos que por lá se permaneça quanto mais dias se conseguir. Este é um roteiro de 4 dias de viagem, onde lhe somámos dois dias livres para praia (Falasarna, Creta Oeste e Atherina, Creta Este). Naturalmente, pode ser encurtado ou alargado consoante os dias livres que queiram acrescentar.




Sobre a Ilha de Creta
Creta é a maior das ilhas gregas, e uma das maiores do Mediterrâneo. Depois da Sicília, Sardenha, Córsega e Chipre, Creta conquista o quinto lugar na lista, e representa um destino largamente sugestivo para percorrer de mota.
Com cerca de 300 km de comprimento e uns médios 60 km de largura, quem olha para o mapa conclui rapidamente que ao longo da sua extensão a ilha é maioritariamente montanhosa. O seu carácter é definido por uma alta cordilheira, que se estende de este a oeste, com cumes a atingir os 2400 metros de altitude. Não sei quanto a vós, mas a mim dispararam-me logo os alarmes de localização de estradas sugestivas. Tínhamos de colocar as duas rodas em Creta.

Montanhas que se agigantam entre o azul cristalino do mar
Heraklion é a sua capital e o ponto mais alto da ilha é o Monte Ida com cerca de 2400 metros de altitude. Segue-se Cordilheira de Lefka Ori com 30 cumes acima dos 2000 metros de altitude e o Desfiladeiro Samaria. A ilha de Creta é banhada pelo mar de Creta que a separa o mar Egeu, a Norte, e o mar da Líbia, a sul. Os ares de África já por ali se sentem com mais intensidade e, apesar de ainda assim acharmos pequena, percorrer as estradas da ilha demora mais do que aparentemente imaginamos.
Creta foi o centro da primeira civilização avançada da Europa: a Civilização Minóica (2700 a 1420 a.C.) da Idade do Bronze. Invadida mais tarde pela civilização Micénica da Grécia Continental, e é no Palácio de Knossos, nos arredores da capital Heraklion, que o seu testemunho ainda prevalece.
A ilha de Creta foi, à semelhança da maioria do Mediterrâneo, governada pelo Império Romano, e sucessivamente pelo Bizantino, Árabes Andaluzes, Venezianos e Otomanos. Em 1898 Creta alcançou a independência dos otomanos e tornou-se no estado que integrou a Grécia em 1913. É por isso também um destino de imensa riqueza histórica e cultural.



Como chegar de ferry à ilha de Creta?
A Grécia continental e insular encontra-se unida através de centenas de ligações diárias de ferry’s. Alguns com a duração de muitas horas onde é necessário pernoitar a bordo. A viagem de ferry para a ilha de Creta dura cerca de 10 horas, e a melhor opção para optimizar o tempo é optar pelas travessias maioritariamente nocturnas. Qual a desvantagem das ligações marítimas gregas? Todas se centram no grande Porto de Atenas, o caótico Porto de Piréus.
A nossa experiência com ferry’s não é das mais agradáveis, e esta é uma solução de viagem que tentamos evitar ao máximo. Por sua vez, chegar às ilhas com a nossa mota de outra forma é muito difícil. O ferry é a opção mais prática e a que torna possível muitas das viagens.
Na hora de escolher por entre as inúmeras companhias que diariamente fazem a ligação Ilha de Creta – Grécia Continental, a consulta de feedbacks acerca da qualidade das operadoras foi intensa, mas sem grandes conclusões. Elegemos por instinto a Minoan Lines e, desta vez, ele não nos falhou.
Se era com alguma apreensão que temíamos um barco velho e sujo para passar 20 horas da nossa vida (na ida e no regresso da ilha), todas as dúvidas se dissiparam quando nos abriram as portas da cabine. Estamos a flutuar em limpeza e luxo a bordo. Sim, gostamos de partir à aventura pelo mundo mas, no final de cada dia, valorizamos um espaço com condições de higiene dignas.

Como comprar o bilhete de ferry? Quanto custa?
Fizemos a reserva através do Direct Ferries. Um site de reservas online que nos apresenta para as nossas datas as travessias disponíveis em várias companhias.
A Anek Superfast, Minoan Lines e Blue Star são as principais operadoras a fazer as viagens. A nossa escolha recaiu para a Minoan Lines, numa travessia com partida às 21h do Porto de Atenas/Heraklion e chegada às 06:30 Atenas/Heraklion. Reservámos uma cabine a bordo para poder descansar durante a noite, e a nossa mota foi no porão do barco, juntamente com outras.

Chania e Heraklion são as duas cidades portuárias da Ilha de Creta. Optámos por Heraklion por comodidade de preços e horários para as datas da nossa travessia. Os valores do bilhete para duas pessoas uma cabine privada superior, e para a mota, rondou os 300Eur por percurso, reservado com antecedência.
Os valores de ferry são como os de avião, à última hora podem ter grandes promoções, mas o normal é estarem a preço mais elevado ou não haver disponibilidade de cabines. É importante ainda referir que se conseguem valores a partir dos 100Eur para a mesma viagem. Abdicando do conforto de uma cabine a viagem pode ser feita por preços muitos mais baixos.
Questões práticas sobre o embarque
Com a confirmação de reserva que nos é enviada por email no momento da compra no Direct Ferries, é necessária fazer a troca pelo bilhete definitivo antes do embarque. Todas as grandes travessias requerem 2h de antecedência no porto, para tratar das formalidades e embarque. É necessário dirigir ao terminal e balcão da Minoan Lines com a confirmação de reserva e documentos de identificação para fazer o check in.
Vantagens na Minoan Lines
- Entrada na cabine com 4 horas de antecedência à hora de partida
- Wi-fi grátis a bordo
- Todas as áreas comuns do ferry e cabine estão muito limpas e cuidadas
- O staff é de muita simpatia e disponibilidade
- Na nossa cabine temos água grátis no frigorífico, frutas da época, vinho branco e vinho tinto de Creta.
Como são as cabines na Minoan Lines?
Reservámos uma cabine superior com janela e foi a melhor viagem de ferry que já fizemos na vida. Retiraria apenas aquela colcha azul e ficaria uma perfeita cama branca! Não precisamos de tanto espaço, é certo. Mas depois de fazer uma terrível travessia no ferry de Barcelona para Civitavecchia, numa cabine sem limpeza, é com enorme surpresa que encontramos esta na Minoan Lines, também do grupo Grimaldi Lines. Será porque a rota grega têm muitos concorrentes a fazer a mesma ligação e eles sabem que têm de oferecer um serviço digno para continuar a ter clientes? É a minha única explicação para encontrar um contraste de experiências tão grande.
Viajar para numa cabine superior para a ilha de Creta na Minoan Lines, é a garantia de uma viagem agradável e muito comparada a um cruzeiro. Além das cabines privadas serem fantásticas, todas as áreas comuns do barco estão incrivelmente limpas, cuidadas e lustrosas.


Roteiro de 4 dias de viagem de mota pela Ilha de Creta (Prolongámos a 6 dias com 2 dias livres só para praia)
Dia 1 – Heraklion – Anópolis – Falasarna Beach – | 280 km ( 5 horas de condução em estradas secundárias)
Ainda não são 7 horas da manhã quando oficialmente colocamos as duas rodas na Ilha de Creta. Chegar a Creta depois de vir da Grécia continental, com muita floresta, deve ser muito parecido como aterrar na Lua de repente. Despida de vegetação, feita de montanhas que se agigantam no horizonte sempre com o mar à vista, Creta tem uma paisagem peculiar feita de planaltos de rocha. É também a maior ilha da Grécia, e aquela onde passaremos os próximos dias.
Viajar de mota pelas ilhas gregas requer, inevitavelmente, que o orçamento inclua o transporte da mota de ferry. Pensámos por isso algumas vezes, se não seria mais sensato economicamente visitar a ilha como fazem as pessoas normais: de avião e num tour por muitas outras. Mas à medida que ia lendo, explorando e planeando a viagem, Creta exercia cada vez mais aquele magnetismo em nós.
Mais do que o único Palácio do Minotauro, Creta tinha uma geografia sugestiva para quem vê na mota a preferida forma de viajar. Com cerca de 300 km de comprimento e 60 km de largura, por onde montanhas que atingem mais de 2400 metros se elevam, só poderia haver por ali algo mais do que muitas praias paradisíacas.


Saímos de Porto de Heraklion para começar o nosso roteiro pela zona Oeste da ilha, e ainda não tínhamos feito 100 quilómetros quando Creta nos confirmou que os nossos instintos estavam correctos: além de um lugar com praias fabulosas, Creta é um destino moto turístico de sonho. Atravessamos as entranhas da montanha pelas Kallikratis Gorge, o pronunciado desfiladeiro que nos dá o privilégio de o percorrer através de uma estrada panorâmica. Estamos no caminho de Chora Sfakion de olho na estrada de montanha Anopoli Road já com o coração a bater mais forte.
Anopoli Road
A Grécia tem um misto de imprevisibilidade nas suas estradas. A verdade é que nunca sabemos bem se de facto estão pavimentadas, ou se estiveram mas já caíram! Sentados nas cadeiras coloridas de uma esplanada à beira mar, perguntamos ao senhor que nos serve mais um Fresh Orange Juice como está a estrada para a montanha. Ele diz que de mota passamos bem mas que de carro é difícil.
Enquanto rimos um para o outro, relembramos que já não podemos cair naquela crença dos locais: se vamos de mota passamos até nos caminhos de cabras. Eles não sabem distinguir uma mota do monte de uma mota de touring, e somos nós a ter que fazer esse filtro. O senhor pergunta-nos para onde queremos ir. Quando lhe dizemos que Falasarna é o nosso destino de final do dia, ele insiste em aconselhar-nos o caminho mais rápido. Essa é a nossa última preocupação. E o normal mesmo, é escolhermos o caminho mais demorado.

Recém pavimentada e uma das melhores estradas da ilha
Não só Anopoli Road é recém pavimentada, como é um dos percursos de montanha mais fantásticos que alguma vez fizemos. Rumamos à montanha à beira mar entre muitas, mas muitas curvas. Sempre de olho naquela cabra maluca que se atravessa ao caminho. Todo o queijo Feta tem de vir de algum lado e isso reflecte-se na quantidade de gado que há nas montanhas. Diria que há tanta cabra por ali, que já não sei se a paisagem sem vegetação da ilha de Creta não será porque as cabras comeram tudo.
Anopoli Road é um percurso sem saída pavimentada. Termina na cumeada da montanha e continua para um percurso fora de estrada. O João, sentiu por momentos o demónio a tentá-lo.. e ainda estava a ponderar evocar a alma RTA da RT. Eu, que vi a altitude no nosso Garmin Zumo XT, achei que se tínhamos subido até aos 1600 metros em tão curta distância, a inclinação em fora de estrada para continuar seria tudo menos própria para uma mota pesada, dama do asfalto e com pneus de estrada. Descer pelo mesmo caminho não foi sacrifício.
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A Costa Oeste de Creta
Terminamos o dia na zona de Falasarna, a Oeste de Creta. Depois de fazer um percurso zigue zague entre a zona central e costeira. A passagem por Rethimo e Chania revela-nos que esta zona tem uns milhares de hotéis, restaurantes e tantos outros serviços preparados para receber mesmo muita gente. Voulolimni é a piscina natural que nos recebe para uns mergulhos de final de dia.
Sabem que tenho problemas em fotografar comida? Chego sempre para jantar cheia de fome, e só me lembro de vocês quando já comi. Vão ter de acreditar em mim quando vos digo que o jantar foi a ver o pôr-do-sol, enquanto comíamos um peixe grelhado com salada grega no Kosmos Fish Tavern.

Alojamento em Falasarna
Informações práticas acerca da costa Oeste da Ilha de Creta
É na zona Oeste da Ilha de Creta que se localizam duas das mais famosas praias do mundo: Elafonisi Beach e Balos Beach. Reconhecidas internacionalmente pelas praias de areia rosa e águas cristalinas de azul mágico. Foram elas que nos levaram àquele lado da ilha, mas foi com algum desânimo que delas regressámos. A afluência a ambas é gigante e mesmo chegando cedo às praias, já milhares de pessoas descem de autocarros, caravanas, carros alugados, etc com destino ao lugar de sonho que é divulgado na internet elevando expectativas.
Por esse motivo, é também a parte mais cara da ilha, mais movimentada, mais repleta de infraestrutura turística. Se é de calma e tranquilidade que procuram, fujam desta zona.

Acessos a Elafonisi e Balos Beach
Elafonisi Beach
O acesso à praia é totalmente pavimentado e existe um parque de estacionamento pago (mesmo para motas) na entrada da praia. O areal é acessível através de uma curta e fácil caminhada de 5 minutos. Existe pouca oferta de alojamentos e restaurantes e para visitar esta praia transporte próprio é sempre recomendado.
Balos Beach
O acesso à praia é fora de estrada num percurso médio de 8 km. No final, existe um parque de estacionamento pago (mesmo para motas) no topo da colina. O acesso à praia requer uma caminhada pela escarpa com a duração de cerca de 20 minutos. A maneira mais fácil e confortável de chegar a Balos Beach é contratar um passeio a partir de uma das cidades que rodeiam a zona: Kissamos e Falasarna.
Melhor lugar para alojamento e praia no lado Oeste de Creta
Falasarna Beach é a melhor opção para pernoitar nesta zona de Creta. A oferta de alojamentos à beira mar e a possibilidade de estacionar a mota no alojamento e seguir a pé para uma boa praia é o principal motivo. Se a partir deste ponto se quiser conhecer as jóias insta gramáveis da ilha, é fácil contratar ali um passeio de barco ou mota de água. Esta opção requer que se fiquem pelo menos 2 noites em Falasarna.
Dia 2 Falasarna Beach – Kotsifou Canyon – Palácio de Knossos – Heraklion | 300 km ( 6 horas de condução em estradas secundárias)
Dia de rumar ao outro lado da ilha, o lado Este. 300 quilómetros para 6 horas de condução é a previsão de rota. A missão é passar todo o trânsito da zona mais movimentada (entre Kíssamos e Retimno) e rumar novamente às montanhas. Creta é a maior ilha do país, mas não deixa de ser pequena para justificar 3 aeroportos e 2 gigantes cidades portuárias. O resultado é o imenso movimento diário e a afluência de pessoas a toda a zona que une Chania a Heraklion. Chamámos-lhe o lado errado da ilha.

Reintrodução ao estilo grego de condução
Fizemos há uns dias a nossa introdução ao estilo de condução grego. Mas com todo o trânsito que apanhamos pela manhã, tivemos oportunidade de testemunhar uma vez mais as variedades gregas. A estrada E75 é a principal estrada da ilha que une as duas grandes cidades por uma panorâmica rota à beira mar. Uma nacional larga, que vai alternando duas faixas por sentido.
Sabem aquela regra que diz que a berma é para ser aproveitada? A verdade é que ainda estamos por vezes a uma larga distância do veículo à frente e já ele está encostadíssimo para nos permitir passagem. E isto não é por sermos uma mota. É porque impera a lei entre o maior e o mais pequeno, uma espécie de código grego que diz: o camião afasta-se na berma para o carro, e o carro afasta-se para a berma para a mota. A mota por sua vez não pode ocupar a faixa toda porque no sentido contrário a lei é a mesma, e também ela não pode ser egoísta.
As montanhas e o interior da Ilha de Creta
Rumámos às montanhas para explorar uma vez mais o coração montanhoso e a zona central da ilha com passagem pelas Kourtaliotiko Gorge. Por ali, além dos olivais a perder de vista, também os vinhedos revestem todos os lugares do solo que não sejam rocha. Um jardim agrícola gigante que atravessamos por todas as pequenas estradas que nos saltam ao caminho.
Muitos dos acessos antigos estão em obras, já caíram ou foram desviados para outros lugares. Quer dizer que tanto o Google Maps como o Garmin ficam um pouco à toa mesmo com uma rota programada. Mas se há coisa que muito valorizo no nosso GPS é o facto de ter os pontos cardeais sempre visíveis, o que me faz dizer ao João: segue sem problema, desde que estejamos a ir para sul e este. Assim haja caminho!


Palácio de Knossos
O Palácio de Knossos, também conhecido pelo Palácio do Minotauro é a paragem que se segue. Estacionamos na entrada da bilheteira, sob a sombra de um jacarandá no auge da floração. Em redor, está um tapete lilás da flor que já caiu, e o perfume no ar é maravilhoso. A fila na bilheteira já tem alguma dimensão mas estamos na Ilha de Creta pela primeira vez na vida, e aquele é um dos lugares que mais aguardávamos visitar; temos de ir ver.
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Todo sítio arqueológico do Palácio de Knossos é um intrigante misto entre as ruínas do casario de pedra com as pinturas de cor ocre, laranja e azul que se destacam por vários recantos. Entre a sala do trono e o labirinto do minotauro, a verdade é que, mesmo a torrar dentro do fato da mota, estar ali a imaginar aquele lugar há 3000 anos atrás é inebriante.
Mais do que a residência real, o Palácio de Knossos era um vasto complexo de edifícios e pátios exteriores, utilizados também como centro do governo, cultura e comércio. A proximidade ao mar Egeu fez com que também ali prosperasse um importante centro portuário na Idade do Bronze Grega.
Alojamento em Heraklion
Dia 3 Heraklion – Ierapetra – Atherina Beach | 300 km ( 6 horas de condução em estradas secundárias)
No lado sul da ilha novamente, é o Mar da Líbia que nos acompanha por toda a rota costeira até ao Santanna Beach. Um recém construído hotel à beira mar que encontrámos a um preço sugestivo. São 3 horas da tarde e a nossa mota diz que estão 32 graus fora do nosso fato. O João estaciona em frente à recepção do reluzente hotel, e eu preparo-me para a fotografia da praxe. Pela zona envidraçada, reparo na expressão dos dois recepcionistas que nos olham intrigados. ” Estes gajos veêm enganados!” Devem ter comentado lá na língua deles que ninguém entende.
O moto turismo na Ilha de Creta deve ter uma expressão muito pequena. Assim, quando viram aqueles dois malucos em fatos suspeitos a aterrarem ali de repente pareceu-lhes sinistro. Ainda por cima eu entrei na recepção de capacete. Sabem lá eles que agarrar a carteira e a máquina fotográfica ao mesmo tempo me deixa sem mãos para mais manobras! Temos um Ambrósio à nossa espera para nos ajudar com as bagagens e levar ao quarto num carrinho de golf.
Eu, naturalmente, para perigoso meio de deslocação continuei com o meu Schuberth C5 colocado. Estamos por fim com os pés na areia preta da praia, a mergulhar nas águas do Libyan Sea que estão a cerca de 26 graus. Mesmo que o mergulho seja com toda a atenção do mundo até passar a barreira de rochedos que por ali se estende.

Dica: Recomendamos Atherina Beach e não Santanna Beach para pernoitar. Os preços dos alojamentos são inferiores e as praias de melhor qualidade.
Alojamento em Atherina Beach
Dia 4 Atherina Beach – Amatos – Kyriamadi Natural Park – Heraklion | 250 km ( 5 horas de condução em estradas secundárias)
8 da manhã em Atherina Beach e já o sol insiste em brilhar com vigor, naquele que é dia de sair da ilha. O ferry para o Porto de Atenas a partir de Heraklion tem hora de saída às 21h. Mas as formalidades de embarque dizem que temos de estar para o check in às 19h. Ainda assim, a rota do dia diz que daremos muitas voltas e faremos muitas curvas até lá chegar. Naturalmente, não pelo caminho mais rápido.



O lado Este da Ilha de Creta
Seguimos a rota costeira com desde a Atherina Beach sempre com o reluzente mar azul turquesa ao nosso lado. Ora entre o mar, ora no coração da montanha, a beleza natural desta zona da ilha faz-nos lamentar porque não passámos ali mais tempo. Subimos e descemos estradas de traçado genial, rodeadas pelos rochedos que sobressaem entre os arbustos agora em flor. Entre o amarelo e o lilás, aquela vegetação rasteira reveste de cor a paisagem inóspita.
Ora em altitude ora à beira mar, a estrada deambula entre a paisagem intocada com vista para Xerokampos. O João, que anda sempre com a viseira do Schuberth C5 semi aberta, fecha-a logo cada vez que avista uma colmeia ao longe. Ainda não se esqueceu da picada da semana anterior. São às centenas as pequenas casinhas coloridas dispostas nas vertentes expostas a sul, onde ouvimos o zumbido das abelhas na sua azáfama de criar mel. Convivem em harmonia com as cabras, que decidem por vezes saltar para a estrada, naquela tentativa de testar os reflexos do pessoal que por ali passa. Parece não haver por ali cão pastor. Nós, pelo menos, não tivemos a infelicidade de enervar nenhum.




Kyriamadi Natural Park
Kyriamadi Natural Park é a reserva natural no extremo nordeste de Creta. Com duas particularidades especiais: alberga as praias selvagens mais lindas da ilha e uma base militar. Trânsito proibido avista-se a dada altura, impedindo a nossa tentativa de fazer o percurso até ao final. Regressamos pelo mesmo caminho constatando com alguma tristeza que o lixo à beira mar é demasiado. Questionando se ali foi parar durante as tempestades, ou se de facto existem pessoas que o vão ali despejar.



Sempre entre o mar e a montanha
Entramos novamente no coração da montanha, pelos desfiladeiros que se agigantam em Creta há sempre algo em comum: terão oliveiras até ao último patamar possível de ser cultivado. De troncos já esbranquiçados e larguras gigantes que acusam a larga idade, os olivais por ali estão viçosos e carregados de azeitonas.


Richtis Gorge
É hora de almoço e decidimos que hoje não vamos parar nos restaurantes dos lugares mais movimentados. Pedimos ao nosso Garmin Zumo XT para nos levar ao Vogazi Tavern que encontrámos numa pesquisa breve. Não havia nada mais a caminho?! Pergunta o João enquanto segue por uma estreita, e íngreme, estrada que nos leva a uma brusca descida de altitude. Estamos na Richtis Gorge. Talvez agora seja tarde para hesitar! Digo eu, olhando para o precipício ao meu lado e para a estrada retorcida na silhueta da montanha. Imaginei de imediato que por ali não se usam placas de: ”teste os travões, trave com o motor”.
Quando é para descer da montanha, a descida é a sério!
Vivemos. E não senti o cheiro de travões! Eles também viveram. Talvez tenham levado só um apertãozinho, pronto. Depois daquela descida com emoção, que se prolongou por mais de 20 minutos, a primeira coisa que fiz quando cheguei a terreno plano foi pedir para sair da mota. Eu vou a pé ali até ao restaurante! Dizia eu ao João enquanto respirava fundo. Saltei de capacete, e lá fui por entre as ruas daquela pequena aldeia. Ouvindo pelo intercomunicador o João a praguejar com alguém. Entre o barulho do mar e o meu fato a roçar na caminhada, ouço também a RT a apitar de tempos a tempos.
Quando encontro o João uns minutos depois, vejo-o com cara de poucos amigos a entrar para dentro de uma carrinha de mercadorias que lhe impedia a passagem. Se há algo que o tira do sério é ter de ficar parado ao sol dentro do fato, com a rua impedida e quando está cheio de fome. O dono, que anteriormente havia ignorado todos os apitos da mota, saltou de dentro de um restaurante num ápice. Deve ter pensado que éramos doidos e decidiu não dizer nada.
Mochlos Archaeological Ruins
Sentados à beira mar numa esplanada com mesas e cadeiras de madeira azuis e brancas, pedidos pela centésima vez uma salada grega e um fresh orange juice. Mas, desta vez, o polvo e o camarão grelhado substituem aquelas sandes de presunto que já acabou. Ao nosso lado está o pequeno ilhéu onde se vislumbram as Mochlos Archaeological Ruins. As ruínas de cidade da civilização minóica de 3000 a.C., que decidiu nessa data que aquele era um lugar perfeito para viver. Geniais.


Chegados ao Porto de Heraklion, o Knossos Palace da Minoan Lines aguarda por nós. Desta vez, tenho a certeza de que não vou precisar do meu Sonasol ainda nas bagagens. Acordaremos em Atenas às 7 horas da manhã do dia seguinte, para continuar a nossa rota pela Grécia continental.
Preços médios numa viagem de mota pela Ilha de Creta
A Grécia é um dos destinos mais caros que já visitámos. Aquela ideia de que é um país menos desenvolvido, e por isso mais económico, é irreal. Apesar de o mundo ser para todas as carteiras, quando consideramos o nosso standard médio para alojamentos e refeições, concluímos que a Grécia está num patamar acima. Naturalmente, acampar e refeições rápidas serão a forma ideal de controlar um orçamento reduzido.
Mas se dormir num alojamento local ou hotel é a ideia, os preços médios andarão pelos 80eur por noite. Esta viagem que foi realizada em Junho, o mês que ainda não é considerado época alta, pelo que Julho e Agosto se esperam ainda mais dispendiosos.
No que a restaurantes diz respeito a tendência mantém-se e o preço médio de uma refeição mais básica num restaurante anda entre os 20eur a 25eur por pessoa. Que facilmente dispara se a escolha recair para peixe fresco que se vende ao quilo a mais de 100Eur. E não, não estou a exagerar. Apesar de haver um imenso mar que sempre nos acompanha ali ao lado, tudo o que dele vem é vendido a preço de ouro como se de um raro petisco se tratasse.

Bombas de gasolina e serviços
Não há necessidade de preocupação com autonomia na maioria da ilha. Existem sempre muitas opções para bombas de gasolina. Com a excepção das extremidades da ilha. São parques naturais, com uma única estrada de acesso e sem bombas de gasolina. O percurso de ida e volta conta com cerca de 100km, e é por isso recomendado que não se aborde a região com pouca gasolina.
Viagem de mota pela Ilha de Creta: Quando ir?
Apesar de estar no Mediterrâneo neva em Creta no Inverno. A ilha é altamente montanhosa e passa muitos meses do ano revestida de neve. Isto quer dizer que para uma viagem de mota pela Ilha de Creta para usufruir das estradas da região em pleno e em segurança, devem ser evitados os meses entre Novembro a Março.
Em todos os outros meses do ano, com a excepção das tempestades imprevisíveis, será a época ideal para uma viagem de mota fora das épocas de neve. Se fazer praia é um objectivo que se quer conciliar com uma viagem de mota, recomendamos os meses de Junho ou Setembro. Julho e Agosto se as multidões não forem um problema.
Moeda
A Ilha de Creta é território da Grécia. Como tal a moeda que circula é o euro e a rede multibanco é muito vasta. Nós levamos sempre um cartão alternativo para fazer pagamentos e que cada vez mais utilizamos para pagamentos no estrangeiro.
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Mapa do Percurso de viagem de mota pela Ilha de Creta
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Pretende utilizar este mapa no seu aparelho de navegação e não sabe como o fazer? Consulte aqui o nosso artigo já publicado.
- Locais de interesse histórico e natural
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- Alojamento
Muito bom Patrícia. Excelente trabalho! Obrigado pelas vossas partilhas. Posso nunca fazer estas viagens na realidade, mas pelo menos faço-as no imaginário ao ler estes textos.
Olá Maria! Não diga nunca, a vida dá muita volta 🙂 Um grande beijinho para si e muito obrigado por estar desse lado.
Olá, costumo seguir os vossos posts com muito interesse. Obrigado pelas vossas informações preciosas. Sendo este (Creta) um destino que gostaria de conhecer pergunto como fizeram a viagem até Atenas? É que uma viagem a partir de Portugal até Atenas são mais de 4000 KMS (só ida). Alugaram moto na Grécia ou saíram de Portugal de mota? Obrigado desde já pelo vosso feedback.
Olá Rogério. Então não está a reconhecer que é a nossa mota? 🙂 Em breve partilhamos mais sobre esta viagem, mas chegámos á Grécia da mesma forma que usámos na nossa rota para chegar à Albânia. Ferry. Explore por aqui que vai encontrar a info. Boas curvas e obrigado
Tem toda a razão, falha minha…mas fiquei tão absorvido pelas paisagens que a moto ficou para segundo plano :).