Algures pelo centro de Portugal, seguindo os caminhos da Serra da Lousã, entrámos no coração de um mundo encantado de estradas, aldeias e florestas. Descobrimos mais um passeio em duas rodas pelos cantinhos preciosos de Portugal e regressámos fascinados. Por lá, são as Aldeias do Xisto que nos saltam ao caminho e sobressaem aninhadas nas encostas escarpadas da serra, criando um roteiro entre elas digno da visita. Recantos mágicos instalados em pleno na natureza, destacam a cada curva a beleza imensa de que Portugal é feito.
Deixámos-nos guiar pela Serra da Lousã sobre as rodas de uma moto diferente, que nos proporcionou momentos de aventura mais ousados e uma distinta mas fantástica experiência de condução. Levámos a Honda África Twin ao seu habitat natural e encontrámos um local ideal para conciliar o modo touring com o modo adventure. Partilhamos tudo de seguida.


Sobre a Serra da Lousã
A Serra da Lousã, juntamente com a Serra do Açor e a Serra da Estrela, forma o mais imponente dos alinhamentos montanhosos de Portugal: a Cordilheira Central. Aqui, é maioritariamente constituída por afloramentos de xisto que, como rocha predominante, serve de adorno aos mais variados tipos de construção existentes.
Prolonga-se pelos concelhos da Lousã, Góis, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. E, além de todas as pequenas estradas que a atravessam, é também de referir a mítica Estrada N2, cuja passagem é compatível pela proximidade e obrigatória pela diversão! (Curvas? São muitas!) Mas esse é um outro capítulo que pode consultar aqui.
Visitar a serra é apreciar a cada quilómetro, a perfeita harmonia entre o Homem de outros tempos e a natureza. É conhecer a casa de veados e javalis que vivem por entre pacatas florestas de sobreiros, azinheiras, castanheiros, carvalhos e pinheiros. É passear pelo interior mais esquecido do país e apreciar a riqueza natural que por lá se encontra. É desfrutar de um cenário pitoresco e idílico, que nos faz sentir que fazemos parte de uma obra de arte de um grande pintor. O tema principal? A vida de outros tempos e as estradas que a revelam.


A Lousã no Solstício de Inverno
Somos desassossegados por natureza e é a viajar que mais sentimos que estamos a viver. É por isso, que mesmo num fim de semana frio de Inverno, rumámos a um destino que tipicamente se encontra envolto em nevoeiro misterioso e carregado de uma humidade permanente. A Serra da Lousã é local para todas as estações do ano. Imaginam a surpresa? O sol de Inverno deu o ar da sua graça e, mesmo no dia mais curto do ano, celebrámos o solstício de Inverno rodeados pelas cores bucólicas da paisagem iluminada por um dia soalheiro.
O Inverno é a estação em que as árvores se despem de folhas e a paisagem se revela desnuda e acastanhada. Por sua vez, os matos revestem-se de uma manto de folhas caídas, como se de um tapete gigante e felpudo se tratasse. As estradas são rodeadas por tamanho espectáculo invernoso e o ecoar do nosso motor é dos únicos ruídos que por lá se distingue. Viajar de mota pela Serra da Lousã é assim, uma viagem à tranquilidade da natureza.


As Aldeias do Xisto
Nesta altura do ano, muitos são os riachos, as cascatas e as ribeiras que fluem vigorosas modelando a paisagem. Pelas montanhas da Serra da Lousã os declives abruptos expõem os rochedos de xisto e quartzitos profundamente sulcados por linhas de água. O xisto, de aspecto polido e de tons escuros, reveste as aldeias que por lá se erguem há centenas de anos. Expõem nas suas fachadas e telhados a rocha mãe predominante na serra e criam um ambiente campestre incomparável.
Construídas a desafiar as leis do equilíbrio e a da gravidade, é pelas encostas pronunciadas da Serra da Lousã que as Aldeias do Xisto se encontram. A cada uma, uma nova perspectiva da vida nos tempos antigos e um novo sentimento de maravilha. Construídas maioritariamente de xisto e quartzito, é pelas ruas estreitas e repletas de detalhe que somos levados a viajar no tempo e a imaginar com exactidão como se passava a vida antigamente.
Somos amantes de viagens em duas rodas e as estradas do mundo chamam por nós. Mas são os locais que nos fazem parar pelo caminho que alimentam a alma de um roteiro sublime. Pela Serra da Lousã, a alma está nas Aldeias do Xisto. Todas iguais mas todas diferentes. Percorrer uma a uma desfrutando das pequenas estradas que as unem é o que muito recomendamos.
Locais a não perder num roteiro pelas Aldeias do Xisto
As Aldeias na vertente ocidental da Serra da Lousã
Casal de São Simão
Ligeiramente desviada do coração montanhoso da Serra da Lousã, Casal de São Simão é a Aldeia do Xisto mais a sul situada e a primeira que visitámos. Recém restaurada à imagem de antigamente, é possível distinguir na perfeição todas as habitações pré-existentes. As ruas sossegadas em calçada de pedra, conduzem-nos à descida pedestre rumo à Praia Fluvial das Fragas de São Simão (15min).


Com alternativa por estrada pavimentada, seguimos sobre rodas pela pequena mas espectacular estrada EM525. Com acesso ao miradouro e à descida curvilínea até ao vale profundo que aloja a praia fluvial, somos surpreendidos por enormes rochedos pontiagudos que subitamente dominam a paisagem.
Estacionámos a África Twin e caminhámos por minutos entre a natureza praticamente intocada que rodeia as margens da ribeira de Alge. A abundância de vegetação de loureiros e sobreiros, o chocalhar das águas em movimento, as folhas que caem das árvores e se acumulam em redor. O gigante anfiteatro natural que surge entre enormes rochedos de altura a chegar ao céu: apreciamos aqui as Fragas de São Simão em todo o seu esplendor.




Gondramaz
Antes da aldeia há o caminho para a aldeia. E o caminho para a aldeia é feito por uma estrada que nos conduz num balcão panorâmico e termina na porta de entrada do mundo encantado da Aldeia de Gondramaz.
Mesmo antes de vislumbrar o pequeno marco amarelo que anuncia a chegada a mais uma das Aldeias do Xisto, somos de imediato recebidos por uma coroa de árvores que ladeiam elegantemente a estrada criando um cenário emocionante. Por entre o arvoredo, espreitamos os telhados desalinhados de um pequeno aglomerado de casas na encosta ao lado.


A poucos quilómetros de Miranda do Corvo e situada na vertente mais ocidental da Serra da Lousã, a aldeia de Gondramaz encontra-se rodeada de castanheiros, faias, sobreiros e outras árvores ibéricas. A tonalidade específica da rocha local, envolve-a por completo alternando o escuro do xisto com o claro do quartzito.
Reparamos de imediato que pisamos uma terra de artesãos, que dominam a arte de trabalhar a pedra. Pelas fachadas das casas da aldeia, são inúmeras as figuras que surgem incrustadas nas paredes expostas. Há nas ruas desta aldeia algo que nos apela a estacionar a mota por mais tempo. Deixamos-nos levar pelo labirinto de ruelas.

No coração da Serra da Lousã
O percurso pela estrada N236 entre Lousã a e Castanheira de Pera, é dos mais ricos e exuberantes da região e foi para lá que seguimos. Com inúmeros locais a sugerir uma paragem mais demorada, esta é uma estrada que atravessa a floresta por quilómetros e nos surpreende com alguns dos lugares mais excepcionais da serra.
Castelo da Lousã
Vindos de Norte e da cidade da Lousã, a primeira paragem é no Castelo da Lousã. Também conhecido por Castelo de Arouce, este é um monumento medieval, instalado num rochedo rodeado por vales abruptos, cuja data de construção original remonta ao período de ocupação árabe da Península Ibérica.
Na encosta adjacente, salta-nos à vista o Santuário de Nossa Senhora da Piedade aninhado na montanha. A seus pés, a praia fluvial que no Verão faz as delicias nos dias de calor. O Restaurante o Burgo, um dos mais conceituados da região também por lá se encontra. Sugerimos por isso, a visita para a hora do almoço!


Cerdeira
Após a visita a algumas das Aldeias do Xisto, passa-nos pelas ideias que as próximas serão apenas mais do mesmo. Certo é que, a paragem em cada uma delas revela-nos de imediato que estamos terrivelmente enganados.
Seja pela estrada de acesso (que usualmente é um percurso sem saída), seja pela envolvência natural ou qualquer outra referência, todas possuem em si um carácter único e recantos especiais que as distinguem mas igualam em beleza.
Cerdeira não é excepção. Após o percurso pela pequena estrada pavimentada de acesso à vila, concluímos que por lá encontrámos uma das estradas mais fantásticas da Lousã. É a pequena e curvilínea estrada, que nos desvia da N236 e nos leva a uma subida aos céus, e à Aldeia de Cerdeira, em mil e uma curvas sinuosas.


Na chegada à aldeia, é o vislumbre das construções desalinhadas de xisto em torno de socalcos aplanados com cultivos agrícolas que nos arrebata de imediato. Ainda a recuperar da subida alucinante, passamos a pequena ponte que nos leva caminhar pela meia dúzia de casas que espreitam por entre arvoredos. Um cenário romântico, com vistas de perder o olhar no horizonte. Um passeio pelo chão de ardósia que nos leva a conhecer a pequena biblioteca existente, as galerias, o forno comunitário e os pequenos cafés e esplanadas à nossa espera.

Candal
À beira da N236 situada, a Aldeia do Candal está encaixada num pronunciado vale e é dividida pela Ribeira do Candal, que flui do cimo da montanha desde o Alto do Trevim. Talvez pela facilidade de acesso a partir da estrada principal, é notório que o Candal é a mais desenvolvida e visitada de todas as aldeias serranas.
Uma caminhada entre ruelas até ao miradouro, é de tirar o fôlego em todos os sentidos. Quer pela inclinação acentuada da subida, quer pelas vistas recompensadoras que do topo se alcançam.
Às portas da vila, o cheiro a eucalipto, louro e alecrim é temperado pelos aromas da gastronomia serrana da cozinha do restaurante local. Um cheirinho que chama por nós e apenas nos faz lamentar não serem horas da refeição! O Restaurante Sabores da Aldeia, no Candal, ficou-nos na memória para uma próxima visita à serra.


Talasnal
É a mais conhecida das Aldeias do Xisto na Lousã, e é também uma das que mais nos cativou. O Talasnal têm algo que convida a prolongar a estadia e a sentar num dos seus balcões panorâmicos.
Não sei se pelas perfeitas ruas e ruelas que definem o labirinto por entre casas de xisto, se pelas pequenas tasquinhas onde há sempre uma lareira acesa e um petisco bem português a despertar-nos o apetite. Se pelas gentes que de sorriso nos recebem, se pelo ar que nela se respira.
Seja qual for o motivo, propomos uma visita à Aldeia do Xisto do Talasnal. Do topo da cumeada onde se instala, leva o visitante a desfrutar de um panorama desafogado sobre o vale, de olhos postos no Alto do Trevim.



O ponto mais alto da montanha e o roteiro panorâmico à vertente oriental da Serra da Lousã
Alto do Trevim
É do Alto do Trevim que percorremos o ponto mais alto da Serra da Lousã. Dos seus cerca de 1200 m de altitude, este é o local cuja estrada conquista a cumeada serrana e se prolonga por quilómetros em modo panorâmico. O Baloiço do Trevim é já um ícone da serra e um local de paragem obrigatória.



Aigra Nova e Aigra Velha
Vindos do Alto do Trevim, a estrada que alcança as Aldeias de Aigra Nova e Aigra Velha exige atenção. Não só pela sua estreiteza e débil estado do pavimento, mas também para não perder de vista o desvio para as aldeias a visitar.
Aqui mudamos de paisagem e de ambiente. O enquadramento paisagístico e a forma como as forças da natureza esculpiram os socalcos da serra deslumbram pela diferença. Aigra Nova e Aigra Velha são vizinhas e partilham um registo inconfundível de alma rural e perfeição campestre.


Pena
Encaixada entre os Penedos de Góis e em condições topográficas extremas, a Aldeia do Xisto da Pena desenvolveu-se ao longo de um promontório e retira água cristalina da ribeira que flui da montanha. É a última das aldeias que visitámos e aquela que nos fez concluir o roteiro com a certeza da escolha acertada de um destino excepcional.


Dica:
Vindos de Aigra Velha, o acesso à Aldeia da Pena é feito por uma estrada de terra batida e algumas pedras soltas, que desce em inclinação acentuada para o vale da Ribeira da Pena. Com as condições atmosféricas favoráveis e uma moto mais permissiva a todos os caminhos, este foi para nós um acesso sem grande dificuldade.
Há uma alternativa completamente pavimentada para acesso à Aldeia da Pena a partir das pequenas povoações de Ribeira Cimeira e Ribeira Fundeira. Qualquer que seja o caminho eleito, o que interessa é não perder o local.
Mapa do roteiro pelas Aldeias do Xisto na Lousã
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir.
Sugestão de Alojamento na Serra da Lousã
Elegemos Miranda do Corvo para local de pernoita durante os 2 dias que passámos pela Serra da Lousã. O Hotel Parque da Serra da Lousã foi o escolhido. Pela qualidade encontrada a um preço simpático, só podemos recomendar a eleição. Consulte aqui os preços para as datas da sua estadia.
Caso pretenda ficar alojado numa das Aldeias do Xisto adiantamos que será uma das nossas opções numa futura visita. Consulte aqui os preços para outras opções de alojamento. (Sugestão de local: Aldeia do Talasnal ou Aldeia de Cerdeira).


Sugestão de Restaurantes na Serra da Lousã
Terminamos com mais um belo passeio de mota por Portugal. E porque pelo nosso país boas opções não faltam, partilhamos também outras sugestões para viagens em duas rodas:
- Roteiro de mota entre Évora, Monsaraz e o Alqueva
- Roteiro de mota entre Marvão e a Ponte Romana de Alcântara
- Roteiro de mota pela Serra da Estrela
- Roteiro pelas Serras de Aire e Candeeiros
- Portugal de Norte a Sul pela mítica Estrada N2
- Roteiro pelo Douro Internacional e Lago de Sanabria
- Parque Natural do Vale do Guadiana
- Na Rota dos Templários – Tomar e Almourol
- Estrada Atlântica
- Sudoeste alentejano e Costa Vicentina
- Roteiro pela Serra da Freita
Mais um Excepcional Roteiro de Viagem, de uma Zona de Especial Beleza.
Mais interessante ainda, por se ter realizado numa altura do Ano em que as Paisagens são um Pouco mais Agrestes.
Muito obrigado José Morgado! Demos uma oportunidade às paisagens de Inverno e valeu muito a pena! Um bom Ano 2019 repleto de coisas boas e muitos passeios de moto 🙂
Obrigado por mais uma fantástica partilha.
2019 cheio de saúde e com excelentes passeio.
João muito obrigado pelo comentário! Desejamos também um Feliz 2019, repleto de coisas boas e muitos passeios de moto!
Parabéns pelo vosso blogue. Vai servir de inspiração para as próximas voltas de mota! A próxima sera N222 com uma passagem pela Lousã!
Muito obrigado Carlos! Boas curvas pela Lousã e pela N222 😉
Boa tarde. Vou fazer a primeira viagem curta com saida de Tomar para fazer este percurso com a minha esposa. Ainda não tenho muita experiência em converter em gpx. Há alguma hipótese de me enviarem este percurso por email ?
Ricardo25lopes@gmail.com
Obrigado e boas voltas
Olá Ricardo. https://quilometroinfinito.com/quando-como-e-porque-criar-rotas-no-gps/ aqui explicamos como converter o nosso mapa num GPX em 2 passos. Não há nada como aprender isso num instante 🙂 Boas curvas e divirtam-se!
Olá Patrícia e João, espetáculo como sempre…
Obrigado…!
Obrigado pelo feedback Paulo! Boas curvas 😉