A estrada de Marrakech a Ouarzazate numa viagem de mota a Marrocos
Uma viagem de mota a Marrocos é sinónimo de muitas aventuras, percorrer a estrada de Marrakech a Ouarzazate é uma delas. A travessia das lendárias montanhas do Alto Atlas que nos conduzem às profundezas de Marrocos.
As montanhas do Atlas representam uma das mais impressionantes cordilheiras de África e estendem-se por mais de 2000 km não só por Marrocos, mas também pela sua vizinha Argélia e Tunísia. Atravessá-las numa viagem de mota é por isso, uma etapa de grande emoção. Afinal para nós, sempre que de cordilheiras montanhosas se falam, grandes travessias se avizinham.

A aventura da travessia do Atlas
Atravessar o Alto Atlas por este percurso torna-se sinónimo de aventura. Não necessariamente pela sua dificuldade, mas porque por lá quem conduz são os marroquinos.
Já falámos sobre o seu estilo de condução louco e impróprio a cardíacos? Sobre a dificuldade que têm em manter-se na sua faixa ou sinalizar uma manobra? Não referindo a possibilidade de uma ultrapassagem numa curva sem visibilidade. Também nunca se sabe quando um rebanho decidirá circular na estrada ou quando um burro decide inverter a marcha.
Associado ao facto de esta se tornar uma das únicas estradas que liga as duas cidades em extremos opostos do Atlas, juntamos o espírito de condução marroquino a uma estrada de montanha com muito movimento, curvas acentuadas e um pavimento misto de off road, estrada excelente e estrada metade pavimentada.
Variedades infinitas e imprevisíveis que tornam esta etapa numa comédia de adrenalina. Só precisa de entrar no espírito e tudo correrá sobre rodas!


De saída de Marrakech para Ouarzazate a Sul do Atlas pela N9
A estrada deixa para trás a cidade dourada de Marrakech e a agitação das suas ruas. De partida no início da manhã, rumo ao coração montanhoso do país, cerca de 200 km de estrada nos separavam do destino final do dia em Ouarzazate. Em Marrocos isso poderá significar um longo dia dia de viagem. Contamos tudo, como sempre!
Dividimos o nosso percurso em três zonas de características muito distintas e um desvio a não perder. Todas completam uma rota panorâmica e de aventura pela verdadeira essência marroquina.
Por lá, viajar de mota é intenso e emocionante. Daqueles locais no mundo onde um dia de viagem nos faz perder no tempo e sentir que se trata de uma semana! Muito para absorver, muitas variedades culturais, muitas paisagens deslumbrantes, muitos lugares com o encanto marroquino e muito quilómetro em duas rodas!

1 – De Marrakech ao Alto Atlas no Tizi n’Tichka
A primeira zona do nosso percurso é entre Marrakech até à subida das montanhas do Alto Atlas. Por aqui se percorrem quilómetros de pequenas subidas, onde o ganho de altitude é subtil. Ou então, a distracção com os horizontes ricos em cores, fizeram-nos perder a noção de elevação!
Não será para menos. Se até então, a nossa viagem em estradas por Marrocos tinha sido através da longa e pouco tradicional auto-estrada até Marrakech, seguida pela experiência louca no seu trânsito citadino, estávamos agora a entrar com as duas rodas num ambiente maravilhosamente distinto e verdadeiramente característico! O Marrocos autêntico.

Sucediam-se as colinas, as montanhas e os vales pintados de verde. Os contrastes entre o verde da vegetação e o ocre das montanhas e do casario tradicional que por lá se ergue, formam um ambiente pitoresco e exótico por onde viajar de mota é um encanto. Rumo ao coração das montanhas, espreitavam-nos ao longe os picos nevados do ponto mais alto do Atlas.
Cobertos de neve e imponentes, tornam-se quase surreais ao redor de uma paisagem tão diversificada, de ares desérticos e tipicamente marroquina. Sim, em Marrocos também neva! E atravessar o Atlas de mota pode ser por isso, um verdadeiro desafio entre neve e chuva.


Passeávamos entre as Florestas de Iggerouka, Tagargoust e Toufligt e a nossa entrada nas montanhas não poderia ter sido melhor. Pelo caminho muitas motas. Umas em busca da aventura a Sul de Marrocos, outras a regressar do que por nós aguardava! Por estas estradas se inicia uma verdadeira viagem de aventura por Marrocos.


2 – No Tizi n’Tichka, a mítica passagem de montanha no Alto Atlas
Chegados à passagem de montanha de Tizi n’Tichka (ou Col du Tichka), a curvilínea e famosa estrada para a travessia da cordilheira do Alto Atlas. Aos 2260 m de altitude, é o local mais elevado percurso e o ponto intermédio da estrada N9 entre Marrakech e Ouarzazate.
Uma das mais pitorescas do país, oferece vistas deslumbrantes sobre as montanhas mais altas do Atlas cuja subida segue em zigue zagues sucessivos.
Pelas curvas entre as rochas ou pelas linhas de cumeada das montanhas que atravessam, o Tizi n´Tichka é um misto de geometria louca entre as paisagens de cor ocre típicas da região.
Pelos arredores, várias aldeias construídas com terra e palha seca, erguidas há séculos pelos povos berberes, enriquecem os socalcos pelo percurso. Muitos cultivados pelos habitantes que se dedicam à agricultura que pintam de verde os vales e as pequenas colinas.


Informações sobre o percurso na montanha
Obras de reabilitação e alargamento da estrada de montanha são visíveis por toda a sua extensão. Vários são os quilómetros onde o pavimento novo e de boa qualidade, nos surpreende com uma transição brusca para um troço de terra batida, de passagem mais dificultada em época de chuvas.
Os xistos, as rochas que repousavam em harmonia com o que a geologia lhes destinou, foram alvo de cortes quase verticais dando lugar a taludes de inclinações elevadas, onde a queda de rochas ou deslizamento de terras provoca abatimentos no pavimento.
Nunca se saberá o que encontrar na curva seguinte e por isso, esta é uma zona especial do percurso, onde aos cuidados com a condução ao espírito marroquino, se devem juntar os cuidados com o estado do pavimento na estrada de montanha.
Em especial se for época de chuvas esta travessia poderá exigir mais atenção (tornar-se difícil) para motas que tenham apenas pneus de estrada (o nosso caso). Concentração elevada e bons reflexos, espírito de comédia e alguma reza são recomendados. No final, contemplar os cenários que o horizonte apresenta no topo, vale cada dificuldade.


Depois da passagem pela montanha, ficámos sem conseguir transmitir se as obras tornaram melhores ou piores este trajecto. Não o conhecíamos antes das intervenções, mas suspeitamos que, enquanto o arranjam numa ponta, a outra começa a desmoronar! Os enormes abatimentos no pavimento recém colocado assim o testemunham.
Continuámos a nossa rota rumo a sul, depois de uma paragem estratégica numa pequena sombra de beira de estrada. Por lá, sombras escasseiam e encontrá-las é uma oportunidade a não perder! Um almoço piquenique com o pão marroquino e os enchidos trazidos de Espanha na bagagem tornaram-se um manjar dos deuses às portas do deserto.

4 – Do Tizi n’Tichka a Ouarzazate nos ares do Sahara
A descida de Tizi n’Tichka deixou para trás as florestas pela montanha e suas estradas elevadas. Entrámos numa nova zona do percurso, a terceira e última, onde as paisagens desoladas que caracterizam grande parte do Sul de Marrocos se encontram.


Estávamos em breve nas portas do Sahara, com os picos nevados do Atlas de um lado e as imensas planícies áridas e alaranjadas do outro. A estrada divide-os oferecendo um desfile de beleza única, com muito para onde olhar e muito para desfrutar!
Um cenário quase lunar onde a cor preta do alcatrão nos define um caminho pelos imensos solos do deserto. Nunca sobre duas rodas tínhamos estado num local tão inóspito e tão grandiosamente belo em simultâneo.
As curvas ficaram para trás. Deram lugar às longas e quase rectilíneas estradas, pousadas nas pequenas colinas e vales que definem os caminhos do sul.


Informações sobre o percurso
Durante todos os quilómetros que percorremos esta estrada desde a descida da montanha, o estado do pavimento manteve-se num padrão elevado de qualidade. Qualquer tipo de mota o percorre sem nenhuma dificuldade. Haja pneus!
Conforme o nosso mapa do percurso que pode consultar abaixo, seguimos sempre pela estrada N9 para Ouarzazate. Mas na hora de deixar o Tizi n’Tichka para trás, outra famosa e rica opção de percurso poderá ser tomada: O rumo a Télouet pela pequena estrada P1506.
Nós, deixámos a opção para um regresso a Marrocos afinal, ainda muito ficou por ver. Mas não chegámos a Ouarzazate antes de um desvio estratégico para conhecer um dos mais belos locais do reino: Ait Ben Haddou (A estrada anteriormente referida por lá termina).
Um desvio ao Ksar de Ait Ben Haddou
O Ksar de Ait Ben Haddou é sem dúvida um mágico local em Marrocos onde um desvio se torna obrigatório. Uma cidade fortificada em barro, empoleirada no topo de uma montanha, que se destaca de um vale repleto de rica vegetação a perder de vista no horizonte.
Um dos mais belos e exóticos locais de Marrocos, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Por lá se filmaram lendários filmes como o Gladiador ou Lawrence da Arábia, e nós entendemos o porquê da escolha. São de facto, cenários cinematográficos resultado da harmonia entre a natureza e a necessidade humana de nela se integrar.

Um aglomerado de pequenas casas tradicionais de cor avermelhada esculpidas numa encosta, facilmente se confundem com o terreno pela sua cor semelhante. Uma espécie de camuflagem que ao longe esconde os tesouros dos seus recantos e a magia dos panoramas que do seu topo se observam.
O passeio pelo Ksar de Ait Ben Haddou
Deixámos a mota estacionada no parque e seguimos para a descoberta. Saltitando entre pedregulhos, atravessámos o rio que a separa da zona de parque. Percorremos as ruelas coloridas e animadas, por cantinhos estreitos e acidentados, onde as casas se empoleiram de forma graciosa.


A cor das tapeçarias e peças de artesanato à venda pelos seus caminhos, dão cor e contraste com ao avermelhado das construções. Pequenos túneis, arcadas escavadas na montanha, escadaria irregular e pequenos currais. Tudo se encontra por este mágico local.
A chegada ao topo após uma pequena caminhada é arrebatadora: um óasis no deserto, assim definimos a beleza de Ait Ben Haddou. No horizonte perde-se de vista o vale repleto de cultivos verdejantes, onde as árvores de fruto e palmeiras se combinam perfeitamente.


Mapa do Percurso
Este foi o primeiro dia de aventuras sobre duas rodas pelo país dos constastes. Como o dia se revelou soalheiro e a travessia foi realizada de modo a evitar as horas de maior movimento (início da manha e final do dia), chegámos atempadamente a Ouarzazate sem maiores sobressaltos. Prontíssimos para os grandes sobressaltos do dia seguinte, numa das maiores aventuras do país e ponto alto da viagem:
Para mais informações práticas sobre Marrocos consulte:
Se pretende conhecer o nosso roteiro geral, formalidades de chegada e documentos a tratar consulte:
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Ola amigos gostei muito da vossa informacao so tenho pena nao nos cruzamos pois fiz quase igual a vossa rota
Voltarei para ano 2020 vou fazer a rota da costa ate o deserto tenho fjr1300 um abraco
Olá Luis! Muito obrigado 😉 Boas curvas!