E se num sugestivo roteiro de mota por terras alentejanas, fosse possível admirar maravilhas do mundo antigo enquanto se percorrem soberbas estradas? Uma espécie de equilíbrio perfeito entre rectas infinitas, seguidas por curvas alucinantes na subida a um ponto alto qualquer e, de repente, nos salta ao caminho um monumento com milhares de anos de existência? Em pleno Alentejo Central, no Sul de Portugal e Distrito de Évora, encontrámos a Rota do Megalítico que é tudo isso!
Arte e natureza desfilam por esta rota que, através de um mosaico de vinhedos, sobreiros e olivais centenários entre povoações pitorescas, chega ao Grande Lago do Alqueva. Desenrola-se em torno da cidade de Évora e é um percurso repleto de boas estradas, paisagens majestosas e esplêndidos monumentos da antiguidade. Além de uma gastronomia simples e deliciosa em qualquer tasca ou restaurante que surja pelo caminho.
Todos estes são motivos mais do que suficientes para nos levarem a rumar vezes sem conta ao interior do país, ao coração do nosso Alentejo querido. E não importa quantas vezes voltaremos, haverá sempre por lá um lugar especial e um novo rumo que nos leva a mais um pedacinho inexplorado do nosso Portugal.
E porque dissociar a Rota do Megalítico de outros locais de interesse histórico pela região seria difícil, por aqui consideramos a passagem por monumentos da época Romana, também bem demarcada no local, e pelos castelos e fortalezas que completam o cenário. Definimos um roteiro para um mínimo de 2 dias pelo interior do Alentejo e abaixo partilhamos todos os detalhes.
A cidade museu de Évora
Évora é uma excelente base para iniciar um roteiro pela região. O Templo Romano, a Capela dos Ossos, a Praça do Giraldo e a Sé são os locais que nos saltam à mente sempre que Évora nos surge em mente. Aquela que é a capital do Alentejo é também dona de um centro histórico bem preservado e dos mais ricos de Portugal, que lhe valeu o epíteto de cidade-museu. Distinguida pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, o centro histórico de Évora encontra-se confinado entre graciosas muralhas que guardam em si os tesouros da cidade. Várias portas monumentais dão acesso às suas labirínticas ruas, dando entrada a um mundo de palacetes, palácios, chafarizes, jardins e claro, o Templo de Diana.
Entrar de mota no centro histórico, é sinónimo de prova de concentração e será uma questão de tempo até entrar sem querer numa rua sem saída, de trânsito proibido ou de sentido único. Ruas coloridas e arejadas, muitas tascas, restaurantes, cafés e esplanadas multiplicam-se pelos recantos da cidade que nos convida a estacionar e seguir envolvido pela alma da cidade, numa caminhada sem rumo.
Se Évora ainda é uma cidade que não conhece, sugerimos que lhe dedique pelo menos um dia para explorar todos os seus locais. Nós seguimos para a Rota do Megalítico em torno da cidade.

Rota do Megalítico em Évora | Porquê tantos monumentos em torno da cidade?
Quem percorre a N114 em direcção a Évora, ou a N256 em direcção a Monsaraz, não imagina muitas vezes que, escondidos entre a paisagem de sobreiros, pinheiros mansos e olivais, existem centenas de monumentos pré-históricos que elevam a região a uma das mais importantes da Península Ibérica, e até mesmo da Europa, no que a Arqueologia diz respeito. Alguns vão sendo anunciados pelo caminho, outros permanecem esquecidos entre as ervas daninhas ou fechados nas imensas propriedades privadas que os rodeiam.
A dimensão e frequência dos monumentos megalíticos em Évora está relacionada com o facto de esta ser uma região essencial de passagem do Homem na Pré-História. Os monumentos, feitos de grandes pedras, abundam como testemunho nos tempos modernos da permanência do Homem da antiguidade nas planícies alentejanas. Uma boa rede hidrográfica resultado da confluência das bacias dos rios Guadiana, Tejo e Sado e uma vasta região de caça, terão sido condições fundamentais à sobrevivência e prosperidade da vida na região.
Estes monumentos representam locais de culto, de sepulcro e outros cujo propósito para o qual foram construídos há mais de 5 milénios continua um mistério. Todos com um magnetismo associado que continua a atrair-nos para onde quer que estejam. Se pelo Reino Unido há Stonehenge e pela vizinha Espanha há Antequera ou Gorafe, por Portugal há Évora.
Pelas suas dimensões ou estado de conservação, existem alguns cuja visita merece destaque. Baseados em todos eles, criámos um roteiro de 2 dias pela região cruzando a Rota do Megalítico com algumas das melhores estradas de Portugal.

Locais visitar na Rota do Megalítico em Évora
Cromeleque e Menir dos Almendres
O Recinto Megalítico, ou o Cromeleque dos Almendres, é o maior monumento megalítico da Península Ibérica e é composto por aproximadamente cem monólitos em forma de U. Tantas vezes referido como o Stonehenge de Portugal, a data da sua construção remonta a 2000 anos antes do icónico monumento britânico. Há mais de 7000 anos que o monumento português resiste à passagem do tempo pelas planícies alentejanas, hoje em dia rodeado por uma floresta de sobreiros.
A uma curta distância do recinto, está o Menir dos Almendres e a sua construção está intimamente relacionada com o cromeleque. O alinhamento de ambos coincide com o nascer do sol no Solstício de Verão, o dia mais longo do ano. Este é um local com uma aura mágica e misteriosa, que nos intriga e deslumbra em simultâneo.

➡️Dicas práticas para visitar o Cromeleque e o Menir dos Almendres
♦A partir da aldeia de Nossa Senhora de Guadalupe, onde se encontra o centro de interpretação do recinto, ambos são bastante fáceis de encontrar. Através de uma estrada não pavimentada, distam cerca de 4 km da aldeia e todo o percurso é acessível de mota (ou carro).
♦Ambos os monumentos são de visita gratuita e não é necessário requerer qualquer tipo de bilhete.
♦O Menir dos Almendres fica numa propriedade privada, mas o percurso até ele está vedado e é acessível através de uma pequena caminhada (5 minutos).
♦ O Cromeleque dos Almendres tem um parque de estacionamento nas suas imediações e para chegar até ele é necessária uma pequena caminhada (2 minutos)
As Antas ou Dólmenes
As Antas ou Dólmenes são monumentos megalíticos funerários. Geralmente são feitas de grandes pedras dispostas na vertical a sustentar uma grande pedra horizontal como tecto, formando assim uma câmara de sepulcro. Além da sua enigmática resistência à passagem do tempo, as suas dimensões e localização são impressionantes. Dispostas em várias localizações em torno da cidade de Évora, sugerimos algumas a visitar. Umas actualmente reconvertidas, outras ainda com o seu formato original bem marcado.
Antas reconvertidas | Antas-Capela da Nossa Senhora do Livramento e de Pavia
A Anta de Pavia e a Anta do Livramento, são o testemunho da adaptação dos povos às construções ao longo da sua existência e seu enquadramento na religião dominante. Convertidas em capelas, estas duas antas apresentam hoje o peculiar formato e são locais de oração. A Anta de Pavia é situada no centro da aldeia de Pavia, por sua vez a Anta do Livramento está situada numa planície que rodeia a aldeia de Santiago do Escoural. Ambas bem próximas da rota da estrada N2.
Antas em formato original | Anta do Olival da Pêga
Próximo à povoação do Telheiro e nas margens da Ribeira da Pêga, visitámos a Anta Grande do Olival da Pêga. Aninhada entre oliveiras e ainda preservando muito da sua estrutura original, visitar esta anta é contemplar uma construção da antiguidade ao mesmo tempo que temos a oportunidade de percorrer um olival com milhares de anos de existência.
Pelo Olival da Pêga, multiplicam-se os trilhos fora de estrada que revelam um horizonte preenchido por um imenso olival, de troncos retorcidos e grandes dimensões, por si só um grande monumento natural.
A Anta do Olival da Pêga está acessível a poucos metros da estrada que liga Monsaraz a São Pedro do Corval e o Castelo do Monsaraz domina o promontório rochoso que dela se avista.


➡️ Dicas práticas para visitar a Anta do Olival da Pêga
♦ Visita gratuita
♦ Localizado a 200 metros da estrada pavimentada
♦ Inúmeros trilhos fora de estrada existem pela região. Os terrenos são na maioria lamacentos e em dias de chuva poderão tornar o percurso mais desafiante.

Outras antas a visitar na região de Évora:
Cromeleque do Xerez
O Cromeleque do Xerez é um recinto megalítico de disposição quadrangular com cerca de 5000 anos de idade, situado no Município de Reguengos de Monsaraz. Em torno de um menir central com cerca de quatro metros de altura este monumento conta com 50 menires de granito de alturas aproximadas.
A contrastar com construções que muito distam no tempo, do Cromeleque do Xerez podemos vislumbrar o Grande Lago do Alqueva, o Castelo de Monsaraz e o Convento da Orada.
O Convento da Orada, hoje em dia entregue praticamente ao abandono, data do século XVIII e é feito de fachadas sóbrias de forma rectangular. Na estrada principal que dá acesso à igreja e ao convento, alinham-se palmeiras de alturas consideráveis que enquadram o convento em harmonia.
A curta distância, encontramos uma miscelânea de paisagens e monumentos, que distam no tempo milhares de anos e que ali permanecem, para nos receber em harmonia.



➡️ Dicas práticas para visitar o Cromeleque do Xerez
♦ De visita gratuita
♦ A 200 metros da estrada pavimentada
Ponte Romana da Ribeira da Pêga
Saindo do Cromeleque do Xerez, passando pelo Convento da Orada e em direcção ao Menir da Bulhoa encontramos numa curva apertada da estrada municipal a Ponte Romana da Ribeira da Pêga. Hoje em dia de apenas passagem pedonal, restam os seus arcos característicos em perfeito estado.

Menir da Bulhoa
Um menir granítico, de idade compreendida entre os inícios do 4º e 3º milénio a.C., está localizado numa área de intersecção rural e urbana perto da localidade de Monsaraz, nas margens do Alqueva. Foi encontrado derrubado e sem a sua base em 1970. Nesta data foi restaurado e recolocado na sua eventual posição original, agora com o topo fracturado. Este menir tem cerca de 4 metros de altura e 1 metro de diâmetro e encontra-se decorado com gravuras que representam motivos solares.


➡️ Dicas práticas para visitar o Menir da Bulhoa
♦ Visita gratuita
♦ Localizado a 200 metros da estrada pavimentada
Menir do Outeiro
Depois de em 1964 ter sido encontrado tombado, o Menir do Outeiro foi reerguido e restaurado e está localizado entre as aldeias de Outeiro e Barrada a poucos quilómetros de Monsaraz. Com cerca de 5,60 metros de altura, é tido como um dos maiores Menires de Portugal e a sua origem terá funcionado como objecto de rituais de fertilidade por parte das populações locais. Ali colocado, em torno das planícies desnudas do Alentejo, o menir avista-se à distância e domina a paisagem com a sua peculiar geometria.
➡️ Dicas práticas para visitar o Menir do Outeiro
♦ Visita gratuita
♦ Localizado a 400 metros da estrada pavimentada
Castelo de Monsaraz e as melhores vistas do Grande Lago do Alqueva
Parada no tempo e empoleirada num promontório rochoso com as melhores vistas para o Alqueva, a vila medieval de Monsaraz mantém a sua magia de outrora. Uma povoação histórica alentejana, feita de cal e xisto, este é um lugar que nos apela a um passeio pelas suas ruas feitas de pedra, ouvindo histórias de reis destemidos e cavaleiros templários que por lá passaram.
Lojas de artesanato, tascas e restaurantes, ateliers de artesãos e muitos locais pitorescos escondidos por detrás das portas coloridas e ornamentadas das ruas da vila. Do Castelo de Monsaraz há uma perspectiva soberba da vila a seus pés e do Grande Lago do Alqueva. O trânsito é proibido no interior da vila na maior parte do dia. Estacione a mota foram das muralhas, entre na porta da vila e recue no tempo.
Alojamento em Monsaraz
Porque já conhecemos a cidade de Évora, procurámos desta vez um alojamento longe da cidade e nas pacatas vilas alentejanas. Localizado na pequena aldeia do Telheiro, a uma curta distância do Lago do Alqueva, elegemos o pequeno Hotel Vila Planície para pernoitar. Clique para mais informações, ler reviews de outros hóspedes e reservar a estadia no Vila Planície.
Restaurante em Monsaraz
À base de tapas e os mais variados petiscos, acompanhados pelo bom pão tradicional alentejano e num ambiente pitoresco, encontrámos o pequeno restaurante O Gaspacho que muito recomendamos. Situado nas ruas da fortaleza do Castelo de Monsaraz, é uma excelente opção para conciliar um passeio com uma boa degustação.
Mapa detalhado da Rota do Megalítico
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Aqui incluem-se as seguintes informações:
🏰 Locais de interesse histórico e natural
🍴 Restaurantes
🛏️Alojamento
Total de quilómetros do percurso : 250 km (+ distância até à região)
Tempo de condução: 4 horas
Excepcional! E aqui tão perto de casa! Obrigado aos Câmara para nunca nos deixarem descansados! Nem que seja só a ver e ler estas Crónicas!!
ehehe muito obrigado também nós José Morgado! Por acompanhar sempre 😉 Boas curvas e não deixe essa RT descansada 😛