Pela Barragem do Alto Rabagão encontrámos uma das mais belas paisagens portuguesas. Basta avistar a pequena estrada que rodeia o grande lago que em seu redor se formou para respirar, como em poucos lugares do mundo, uma atmosfera mágica no seu sentido mais puro.
Aqui, uma natureza prodigiosa convive em harmonia com a intervenção humana. Um local que se reinventou, e se apresenta hoje como um recanto precioso do nosso Portugal. Um curto roteiro panorâmico que, entre estreitas e belas estradas, nos remete às paisagens costeiras da Escócia, fazendo-nos reflectir por momentos, sobre em que parte do mapa do mundo viajamos. Os tons acastanhados e amarelados da vegetação que rodeia as margens, as cores azul forte das águas do lago, os pequenos ilhéus e penínsulas em seu redor. Tudo por ali é um encanto e tudo por ali promete deslumbrar quem ousar por lá passar; com tempo. Tempo para apreciar.


Sobre o Alto Rabagão
Localizada no concelho de Montalegre, região do Barroso em Trás-os-Montes, no Norte de Portugal, a Barragem do Alto Rabagão é um colosso da engenharia moderna, que formou uma gigante albufeira na idílica zona envolvente à sua construção. O aproveitamento hidroeléctrico das águas do Rio Rabagão, que atravessa a zona, alterou para sempre a paisagem circundante. Modificou irreversivelmente as vidas dos seus habitantes, inundando os seus terrenos, dando lugar ao grande lago que hoje nos deslumbra visitar. Nós chamamos-lhe o Alqueva do Norte, em analogia à obra equivalente em pleno Alentejo.
De qualquer ponto da barragem do Alto Rabagão, avistam-se montanhas no horizonte. Parecem aguardar o seu momento, destacando-se com imponência como pano de fundo. Entre a brisa que se faz sentir à beira lago e o chocalhar as águas, ouvimos o seu chamamento. Para elas seguiremos em breve, pois anunciam que por lá estarão estradas soberbas.

Os horizontes majestosos do Alto Rabagão
Em redor do grande lago, o relevo é maioritariamente plano, mas dos poucos pontos altos que o rodeiam, é possível vislumbrar a albufeira em quase toda a sua extensão e as proeminências rochosas para os lados de Pitões das Júnias e Tourém, os limites do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Também a Serra do Larouco, nos arredores de Montalegre e as pequenas aldeias e penínsulas que cresceram à beira da água.
De Aldeia Nova do Barroso a Alturas do Barroso, Travassos da Chã, de Pisões a Vilarinho de Negrões, etc. Aldeias forjadas na dureza da vida da pastorícia e agricultura, que enfrentam agora a desertificação em muitos locais. Habitadas por rostos sorridentes mas envelhecidos, as aldeias mais antigas permanecem muito longe da vida moderna. Por lá os bóis ainda são conduzidos pelas ruas de pedra por mulheres vestidas de negro, e os pastores ainda deixam os seus rebanhos por meses pelas colinas da região.



Locais a visitar em redor do Alto Rabagão | Município de Montalegre
Vilarinho de Negrões
Uma das Aldeias Maravilhas de Portugal, Vilarinho de Negrões foi distinguida entre outras 49 na categoria de Aldeias Ribeirinhas. É também, juntamente com a sua vizinha Negrões, uma das mais pitorescas de toda a região. Pela preservação e autenticidade do seu casario, mas principalmente por se encontrar sobre uma estreita e fabulosa península no lago do Alto do Rabagão. Rodeada pela serenidade das águas da albufeira, Vilarinho de Negrões não é de todo uma aldeia turística, mas é um dos mais belos locais do município.
Paramos para um café matinal no único restaurante da zona, o Café Restaurante a Ilha. Por lá, obtemos gratuitamente uma explicação orgulhosa do proprietário, sobre o programa que levou a sua terra à televisão. Folheamos o livro onde nos mostra Vilarinho de Negrões por entre outras aldeias lindas de Portugal. Diz ele, feliz não só pela distinção da sua, como de tantas outras pelo país.
Por Vilarinho de Negrões as obras de pavimentação agora decorrem. Preenchendo as ruas que até então são de terra batida com um misto da palha que alimenta os animais que por lá atravessam diariamente. Seguindo o seu caminho entre os campos de pastorícia e o curral que os abriga. Pelas ruas da aldeia, ouvem-se as águas que correm dos chafarizes e brilham nos pequenos lagos construídos em redor. Serenidade e calmaria, à beira lago.




Montalegre
A vila de Montalegre é das mais conhecidas da região. Pelo menos por dois motivos: pelas bruxas e pelo fumeiro. No que às bruxas diz respeito, tudo se passa em torno do seu castelo do séc. XIII, erguido sobre os resquícios de uma fortificação mais antiga. É no seu interior e arredores, que em todas as Sextas-Feiras 13 do ano se faz a grande Festa das Bruxas. Parece que por lá o dia das Bruxas, Sapos, Demónios e de todos os símbolos de azar, se enfrentam com uma enorme festa. Dinamizada pelo Padre Fontes que realiza uma queimada no recinto em medieval, Montalegre ganha vida e alegria em torno do arraial popular. Quem a visita fora das celebrações, não diz a proporção da festança que por lá se vive nos dias do azar. Voltaremos para a festa!
No que ao fumeiro diz respeito, Montalegre é também famosa pela Feira do Fumeiro que se realiza todos anos durante o mês de Janeiro. Oportunidade ideal para partir de malas vazias e voltar de malas cheias. E cheirosas. O ideal seria uma Sexta Feira 13 em Janeiro, com direito a dupla festa!


Pitões das Júnias
Situada a cerca de 1200 metros de altitude, a aldeia de Pitões das Júnias está totalmente inserida no Parque Nacional da Peneda-Gerês e corresponde ao local geográfico que delimita o seu extremo este. De relevo variável, a região destaca-se entre um planalto de vegetação rasteira típica de zonas glaciares, rodeado por picos rochosos imponentes que anunciam a fronteira com Espanha, ali ao lado. O gado bovino por lá pasta livremente.
Uma paisagem de alta montanha, que na época fria se cobre de neve, feita de rochedos graníticos. O principal material utilizado nas construções locais. Ali, Pitões das Júnias está construída no topo de uma colina, de casario de pedra e ruas estreitas, sempre com uma vista panorâmica para o cenário natural que a rodeia.


Tomamos o rumo a dois dos principais locais para visitar na aldeia. Cientes de que tantos outros por lá ficarão por descobrir. Aqueles que se escondem por detrás de umas horas de caminhada pelos trilhos que rodeiam a região. Em tanto quanto os nossos olhos conseguem avistar, o ambiente promete recompensar os exploradores mais ousados.
Fazemos uma pequena caminhada para visitar o Mosteiro de Santa Maria das Júnias e a Cascata de Pitões das Júnias, com os seus passadiços. Num dia de Primavera fresco mas soalheiro, a caminhada é um passeio reconfortante por entre os campos floridos em redor. Pequenos arbustos estão agora em flor e revestem com um manto rosado os campos atravessados. Um espectáculo natural tão simples e tão fascinante.


Em Pitões das Júnias: Mosteiro de Santa Maria das Júnias
Para conhecer o Mosteiro de Santa Maria das Júnias é necessário percorrer um irregular caminho feito de lajes e pedras que nos leva a um magnífico e estreito vale, à beira do ribeiro de Pitões. O local onde o planalto da Mourela e a Serra do Gerês se encontram, foi o eleito para a construção do intrigante mosteiro que hoje se encontra em ruínas.
O mosteiro destinava-se a albergar frades beneditinos que mais tarde integraram a Ordem de Cister. De difícil acesso, e longe dos caminhos de lugares habitados, o Mosteiro de Santa Maria das Júnias foi edificado durante a primeira metade do século XII. Antes ainda da fundação de Portugal e está classificado como Monumento Nacional.
No ano de 1834, após a extinção das ordens religiosas em Portugal, o convento foi abandonando e destruído por um incêndio. Hoje em dia, apenas a igreja se encontra de pé, onde é possível contemplar um portal românico e um retábulo seiscentista, na capela mor.



Em Pitões das Júnias: Cascata de Pitões das Júnias
Localizada a uma curta distância do Mosteiro de Santa Maria das Júnias, a Cascata de Pitões das Júnias é a queda de água resultante das águas do ribeiro de Pitões, que entre os desníveis do terreno, aqui cai de cerca de 30 metros de altura. Desaguando mais adiante num pequeno lago formado por afloramentos de rocha granítica, litologia dominante na região. Uma das muitas cascatas da região do Barroso, que alimenta os rios que nascem na Serra do Gerês.


Informações práticas para a visita ao Mosteiro e Cascata de Pitões das Júnias
- Preço: Gratuito
- Horário: Livre
- Acesso por estrada: a partir do centro da aldeia de Pitões das Júnias, tomar o rumo ao cemitério e seguir por uma estrada de pedra até encontrar um largo para estacionamento.


- Mosteiro: 350 metros de caminhada (descida pedonal ligeira)
- Cascata: 750 metros de caminhada (descida pedonal íngreme)
⚠️ O acesso à Cascata de Pitões das Júnias é feito por um passadiço de cerca de 200 degraus em descida pelo vale. Este passadiço encontra-se em grave estado de decadência, estando por isso perigoso em muitos pontos. Vigas e patamares de madeira partidos e apodrecidos fazem com que o local não seja dos mais seguros para se visitar actualmente.

Tourém
Mesmo que a visita a Tourém possa implicar ter que voltar para trás pela mesma estrada, recomendamos que não deixe a região sem a conhecer. Porque os quilómetros que atravessam a serra entre Pitões das Júnias e Tourém são dos mais soberbos que por ali percorremos. Também porque a aldeia é igualmente merecedora de uma visita.

Chegar a Tourém é por ali chegar ao fim de Portugal. Uma aldeia raiana onde o Gerês fica para trás e as terras de Galiza se encontram. Com todas as suas tradições, em Tourém podemos admirar as suas casas ainda bem preservadas, as ruas empedradas e toda uma história de uma aldeia comunitária. Ali recuamos a tempos muito mais distantes, onde o sentimento de entre-ajuda e comunidade estava bem presente na população, como valiosa arma para sobreviver naquelas terras distantes. Atravessamos a ponte, admiramos a albufeira do rio Salas e as montanhas que voltaremos a atravessar.
À semelhança da sua vizinha Pitões das Júnias ou da mais distante, Rio de Onor, no Montesinho, por aqui as histórias são de aldeia que soube sobreviver em comunidade e por entre uma rota de contrabando entre fronteiras.



Sugestão de Alojamento no Alto Rabagão, Negrões
Situada à beira das águas do grande lago do Alto Rabagão, as Casas da Avelã Brava foram o nosso refúgio por 2 noites na região. Se as imagens anunciavam um fantástico alojamento, a chegada supera a expectativa e este é um local que recomendamos.
As soberbas vistas de qualquer ponto da pequena casinha de pedra fazem-nos sentir perfeitamente envolvidos na natureza. Um recanto maravilhoso, situado na pacata e tradicional aldeia de Negrões, onde qualquer que seja o ângulo, as águas do Rabagão lá estão para enquadrar o cenário. Sentados no sofá, petiscando na cozinha ou deitados na cama, estamos sempre quase de pés na água.

As Casas da Avelã Brava são um alojamento local que disponibiliza casas auto suficientes, com cozinha equipada, sala de estar, casa de banho privada e um quarto duplo. Com lareira para os dias frios e ar condicionando para os dias quentes. Este é um local onde voltaremos no Inverno, para depois de um roteiro de mota pelas paisagens avassaladoras do Rabagão, repousar à lareira com vista para o grande lago.

Um ambiente único à beira lago
Estacionamos a mota no pequeno quintal murado, rodeado por hortênsias de cores garridas que nesta época do ano estão em flor. Entramos no piso superior da pequena casinha iluminada pelo horizonte mágico que a rodeia, onde contemplamos beleza em cada vidraça. Adormecemos assistindo à luz crepuscular que ilumina a barragem.
Para reservar a sua estadia, consultar preços e disponibilidade clique aqui: Casas da Avelã Brava

Sugestão de Restaurante na região
- Restaurante Pólo Norte – O Diabo – Em Aldeia Nova do Barroso
- Casa do Preto – Em Pitões das Júnias


Mapa do Percurso completo
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Aqui incluem-se as seguintes informações:
- Locais de interesse histórico e natural
- Miradouros
- Aldeias, vilas e cidades atravessadas
Total de quilómetros: 200 km
Tempo mínimo sugerido: 2 noites, 1 dia completo na região
Para extrair o Ficheiro GPX deste roteiro clique aqui.
Sugestão para outros roteiros de viagem de mota pela região:
⬅️ Etapa anterior: Roteiro pelo Parque Natural da Peneda Gerês
➡️ Etapa seguinte: Parque Natural do Alvão e N304
Excelente! Andei há pouco tempo por estas Bandas mas, como sempre acontece com os Roteiros dos Câmara, percebi que muita coisa interessante não vi por desconhecimento meu. Assim, terei excelentes pretextos para lá voltar!! Obrigado aos Câmara pelas Sugestões, Roteiro e Fotos, tudo do Melhor!!
Olá José Morgado! eheh Assim fica sempre com um novo motivo para regressar 😉 Boas curvas, beijinho e abraço!
Uma bela descrição desta parte do concelho de Montalegre. Aproveito para informar de que o passadiço da cascata de Pitões das Júnias foi totalmente substituído, pelo que é agora seguro.
Boa noite Carlos! Fizeram muito bem, estava muito perigososo. Fico muito contente em saber! Obrigado pela sua mensagem