O Parque Nacional da Peneda Gerês está para Portugal, como o Parque Natural de Baixa Limia-Serra do Xurés está para Espanha. Visitar os dois é fundamental. A cumeada da montanha divide fronteiras, e o lado espanhol continua a ser um dos mais inexplorados. É nele que desta vez centramos uma rota que contempla maravilhas históricas, arqueológicas e gastronómicas. Ao longo de fabulosas estradas para percorrer de mota. Regressando com aquele sentimento de que fomos uma vez mais ao Norte de Portugal e Espanha, e conseguimos um novo roteiro por lugares nunca visitados.



Sobre a região
A Serra do Xurés é um parque natural espanhol que conjuntamente com o português Parque Nacional da Peneda Gerês integram uma reserva da biosfera. Situa-se a sul da província galega de Ourense, entre os concelhos de Entrimo, Lobios e Muinos, na vizinha Espanha até à fronteira com Portugal. Onde enquadra uma parte das regiões portuguesas de Trás os Montes e Minho.
Acompanhando o curso do grande Lima, sucedem-se albufeiras, lagos e lagoas em torno de bosques de folha caduca. Aqueles que no Outono e Primavera dão um toque de magia às paisagens, revestindo de cor e flor cada estrada que por eles nos permita mergulhar. Os habitantes da região, vivem em pequenos casarios de pedra. Aglomerados populacionais com os traços rudes de outros tempos, onde a agricultura e a pecuária são a actividade dominante. Aproveitam as terras para pastagens e cultivos, alternando-os com os pousios de centeio.

Na zona que integra a Serra do Xurês encontram-se as melhores termas naturais da província espanhola, com a particularidade histórica de se enquadrarem numa das rotas romanas da Ibéria. E outra da Pré-História com um conjunto arqueológico que comprova uma vez mais que, os nossos antepassados, eram exímios na escolha dos melhores lugares na natureza.
Esta é uma zona montanhosa onde o granito é a rocha predominante, assim como as únicas paisagens que só o ambiente granítico definem. Terras por onde um passeio será sempre garantia de coração, e barriga, bem cheios. Cheios de boas paisagens, de boas estradas e de boa comida. Dias depois de regressar, enquanto escrevo este artigo, ainda sinto aquele estômago embuchado de tanto abuso de comida deliciosa! Sempre a testar os limites das boas suspensões da mota.
Sobre o roteiro entre Portugal e Espanha
Saímos pela manha da Casa da Lata Agroturismo que elegemos para uma estadia de 2 noites para um roteiro circular na região. Uma quinta de turismo rural na região de Amares com o Parque Nacional da Peneda Gerês na sua vizinhança. Não é a primeira vez que visitamos a região e, por isso, naquela manhã em que o sol já nos ilumina com vigor, o nosso rumo leva-nos directamente ao lado espanhol e à Serra do Xurés.
Estão 10 graus às 9 da manhã. Abro a viseira do capacete para sentir aquele ar fresco a bater no rosto. A recém pavimentada estrada N101 que une Vila Verde a Ponte da Barca, faz as delícias do caminho mais directo, entre curvas e contra curvas por um túnel de vigoroso arvoredo. Espreitando sempre as latadas de videiras que na Primavera começam a despertar, e as esplendorosas glicínias que contornam de lilás muros e fachadas.
É quando encontramos a N203, que nos levará a Espanha em poucos quilómetros de muitas curvas, que o soberbo rio Lima dá o ar de sua graça. E se há um ano atrás, nesta mesma região, testemunhávamos uma das catástrofes ambientais que o esvaziamento severo da Barragem do Alto Lindoso provocou, um ano depois o nível das águas do Lima volta aos tempos áureos, depois um Inverno chuvoso. A vila de Aceredo que ficou então exposta, está novamente submersa pelo rio que flui vigoroso, de águas que espelham o céu azul e a vegetação em redor.
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Entrada na Baixa Límia Serra do Xurês
Em cima de uma das mais altas pontes que conhecemos, paramos por momento para contemplar tamanha beleza natural. Nas águas do rio, o pólen amarelo dos pinheiros cria contornos únicos, anunciando com afinco que estamos em plena Primavera, e sua explosão de cor.
Os banhos termais de Lobios estão ali ao lado, mas esta rota é para lugares por nós inexplorados. Por sua vez, para quem ainda não conhece é um desvio recomendável. Seguimos para norte, e para a Bande, para conhecer o acampamento romano e termas romanas de águas quentes.

Aquis Querquennis, o acampamento militar romana em Bande
Aquis Querquennis foi um acampamento militar romano localizado em Os Banos, no concelho de Bande, Galiza. Ocupado até meados do século II, foi provavelmente construído como apoio à construção da Via XVIII que unia Bracara Augusta (Braga, Portugal) a Astúrica Augusta (Astorga, Espanha).
Os mestres arquitectos romanos construíram uma espaço de 3 hectares repleto de infra estruturas, de forma rectangular entre robustas muralhas. Torres defensivas ainda se distinguem entre as portas da muralha construída em granito, a litologia dominante na região. Está brilhantemente instalada nas margens do rio Lima, com uma exposição solar privilegiada, e próxima às nascentes termais de águas quentes da região.
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Termas Romanas de águas quentes de Bande
A uma curta distância de caminhada (ou de mota via estrada) de Aquis Querquennis, um dos mais bem preservados acampamentos romanos na Ibéria, estão as termas romanas de águas quentes com águas que ali jorram entre os 36º e 48º graus. Um elemento de vital importância para a civilização romana pelos efeitos terapêuticos e recreativos. Expostas ao ar livre, ainda hoje são usadas gratuitamente, e representam um dos ex líbris da província de Ourense.
Porque estão situadas nas margens do rio Lima, cujo caudal é directamente afectado pela Barragem das Conchas e Alto Lindoso, a maioria dos meses do ano encontram-se submersas. Assim, para garantir que a visita não seja em vão, recomenda-se que seja realizada no Verão ou no Outono.
Nós, que chegámos na Primavera, descobrimos ser cedo de mais para as apreciar. Deixando assim uma boa desculpa para voltar noutra estação. Aquelas toalhas e fato de banho na bagagem, revelaram a nossa elevada expectativa de mergulhar naqueles banhos quentes.

Albufeira do Salas e a rota da Pré História no Xurés
O roteiro em torno do parque natural leva-nos agora pelas encostas serranas até à Albufeira do Salas. Por lá, e com os olhos postos no horizonte montanhoso do granito no Gerês, encontramos uma região repleta de dolmens e monumentos megalíticos. Aqueles lugares arqueológicos que nos encantam visitar porque sempre se localizam em cenários especiais.

Dolmen Casiña da Moura
Ao sair da aldeia de Maus de Salas, com as canelas inteiras depois de sermos perseguidos por um rafeiro mais enervado, viramos à direita e observamos o primeiro monumento megalítico que nos salta ao caminho: Dolmen Casiña da Moura. Um exemplo completo de uma anta com a câmara poligonal formada por sete lajes de granito, suportando uma outra laje de grandes dimensões. Este monumento megalítico, foi removido da sua localização original. Provavelmente por alguma intervenção na Barragem do Salas. Aquelas práticas que me custam a entender. Se estas construções são tidas como locais de sepulcro, quer dizer que levaram a campa e deixaram o defunto?
Numa visita num dia de sol radiante, o nosso passeio por entre estes pedregulhos teve um encontro imediato com uma cobra que apanhava banhos de sol tranquilamente. Vamos ali lavar as mãos àquele ribeiro? Dizia o João que não demorou muito a soltar um grito afeminado. Tal bicharoco, do qual não é muito fã, apanhou-o de desprevenido fitando-o com ar antipático.
A nossa visita pelos monumentos seguintes foi repleta de maior cuidado nos lugares onde metíamos as mãos. E é verdade que fui espreitar pela mota, braços de suspensão e rodas se não havia por ali uma prima à espera de boleia para umas belas curvas.

Mamoa Casola Do Foxo
Entre tantos outros dolmens/mamoas na região, a Mamoa da Casola do Foxo é a visita que se segue. Uma das que se encontra ainda muito próxima da sua estrutura original. Está inserida nas margens da barragem, com um deslumbrante vislumbre para um mágico horizonte. É Primavera sem dúvida. O Gerês e o Xurés, seja ele o espanhol ou o português, estão com a urze em flor. O lilás é agora a cor predominante.
A pequena estrada que ali nos leva, não se destaca pela qualidade do piso, ou pela particularidade de dar largas à condução. Por sua vez, compensa ao conduzir-nos para um cantinho inexplorado de paisagem de tirar o fôlego.


Foxo do Lobo do Salas
É também junto à Mamoa Casola do Foxo que está o Foxo do Lobo. Uma das muitas armadilhas que durante séculos foram utilizadas para caçar lobos. São geralmente encontradas com um formato de V, duas paredes que convergem num vértice e formam uma fossa. Mas a do Foxo do Lobo do Salas é circular, contrariando a tendência. Com altas paredes de pedra, o Foxo do Lobo foi construído de forma a que o animal pudesse facilmente entrar por um dos seus lados, mas impossível dele sair. Numa forma de poço.
Hoje em dia, o local foi restaurado e encontra-se preservado. Adicionando mais um lugar de interesse a uma rota de viagem de mota pela Serra do Xurés.



Tourém e Pitões das Júnias, Terras de Barroso
De saída do espanhol Xurés, é na fronteira de Tourém que entramos novamente em Portugal. Com esperança de voltar a ver as varandas de casario de granito com o milho entrançado pendurado. Chegámos cedo demais. Imagino que só lá para o Verão se volte a apreciar a arte de entrançar o milho, expondo-o nas fachadas soalheiras das casas, para que seque correctamente.

O rumo é à aldeia de Pitões das Júnias no concelho de Montalegre. Instalada num planalto do Gerês Transmontano e Terras de Barroso, um dos melhores restaurantes da região que faz-nos lá voltar em todas as vezes que estamos na vizinhança: Restaurante Casa do Preto.
No nosso roteiro de 5 dias pelo Parque Nacional da Peneda Gerês, já referimos que se visitar Pitões das Júnias é obrigatório fazer a caminhada para o Mosteiro de Santa Maria das Júnias, os passadiços para a Cascata de Pitões das Júnias e a Aldeia Velha do Juriz.
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É final de tarde e hora de terminar o dia no mesmo lugar onde começou. Seguimos pelo traçado da CM1276. Um itinerário menos conhecido que acompanha o curso do Cávado no alto da montanha. Na outra margem, está a N103 cujo traçado ali é, para nós, menos sugestivo. Encontra-se entre muitos aglomerados populacionais movimentados e isso tira sempre o encanto a quem viaja de mota para apreciar paisagens.
Sugestão de alojamento
Apesar da maioria desta rota se basear principalmente em Espanha, quando se tratam de destinos próximos da fronteira é sempre a Portugal que damos prioridade para o alojamento e refeições. Este foi um tour circular de um dia, num roteiro total de 3 dias a partir da nossa casa no centro do país. A Casa da Lata Agroturismo foi o local eleito. Pelo ambiente acolhedor e tranquilo, assim como a qualidade de todos os serviços e refeições.
Reserva aqui a Casa da Lata Agroturismo
Sugestão de restaurantes neste roteiro
Viajar pelo Norte de Portugal é fazer uma viagem pela maravilhosa gastronomia portuguesa. Estes foram os locais eleitos na nossa visita a região, aos quais voltaremos sempre que possível. Dada a elevada procura, sugerimos que reservem mesa.
Mapa do percurso pela Baixa Límia Serra do Xurés
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Pretende utilizar este mapa no seu aparelho de navegação e não sabe como o fazer? Consulte aqui o nosso artigo já publicado.
- Locais de interesse histórico e natural
- Restaurantes
- Alojamentos
Procura um roteiro de mais dias pelo Parque Nacional da Peneda Gerês? Consulte aqui o nosso artigo já publicado:
Roteiro de 5 dias de viagem de mota pelo Parque Nacional da Peneda Gerês
Bela rota sem dúvida! É dos nossos preferidos aqui no nosso “quintal”. Outra sugestão era descer pela Mata da Albergaria, mas agora com a 101 “fresquinha” é difícil a escolha 😀
A Mata da Albergaria é sempre a mais bonita opção. Se não for feriado, ou fim de semana de grande movimento. Senão, de mota, é para fugir ehhe Da confusão e dos carros. Boas curvas e obrigado 😉
Parabéns.
Mais um excelente roteiro, que mostra que boas curvas, boas paisagens, bons alojamentos e gastronomia, podem estar ao alcance de todos.
Continuem a divulgar opções, roteiros e conselhos.
Muito obrigado Eduardo! É mesmo verdade, vivemos aqui neste cantinho da Ibéria que nos permite andar de mota o ano todo e ao alcance de tanta coisa boa. Boas curvas
Roteiro espetacular e altamente inspirador para quem pretende aventuras com paisagens dinâmicas e únicas, aliadas a uma viagem de duas rodas 😎 Quilómetro Infinito sempre a considerar e a pontuar no que respeita à originalidade dos percursos com boa gastronomia e ao que de melhor temos no nosso país. ✌😉
Muito obrigado Telma! Só para dizer que regressei há 4 dias e ainda estou com a barriga cheia lol que abuso! O que mais me custa quando saio do país é a falta da nossa comida maravilhosa. E neste roteiro isso não faltou. Muito boas curvas e obrigado pela mensagem
Roteiro impecável e muito informativo. Muito bom!
Este é o meu ‘recreio’ quando não posso ir muito longe. E que ‘recreio’ ele é.
Obrigado
Roteiro impecável e muito informativo.
Este é o meu ‘recreio’ quando não posso ir muito longe. E que ‘recreio’ ele é!
Obrigado.
É um belo recreio com certeza! Muito obrigado e muito boas curvas por esse recreio e muitos outros 🙂