Tal como em Portugal, também pela vizinha Espanha de norte a sul se encontram mil e uma variedades de paisagens naturais. E, se pelo sul, na Andaluzia, se multiplicam estradas e lugares soberbos para percorrer de mota, o norte não lhe fica atrás. Arrisco-me a dizer, que uma viagem de mota pela Cordilheira Cantábrica é um dos mais belos destinos a que podemos rumar em plena Ibéria.
No Norte de Espanha, escondido pelo mediatismo de lugares mais cobiçados ali ao lado (Picos de Europa), o potencial mototurístico de toda a cordilheira que divide a Cantábria, as Astúrias e Castela e Leão, torna-se praticamente desconhecido pela maioria dos visitantes. Depois de uma abordagem à região, a um ritmo mais lento, rapidamente concluímos que só pode dever-se à falta de divulgação. Afinal, a qualidade das rotas que por ali fizemos são dignas da nossa eleição de mais belos destinos percorridos.
Continuando a nossa saga de partilha dos lugares mais fascinantes para viajar de mota por este mundo, agora partilhamos em detalhe a nossa rota de viagem de mota pela Cordilheira Cantábrica. Aqui ao lado, em Espanha, encontramos uma das regiões mais espectaculares do país. Um mundo infinito de estradas de montanha repletas de grandiosidade, com pavimento irrepreensível, horizontes majestosos, geometrias apelativas e panoramas arrebatadores. Quase sempre, com o mar à vista. Vamos até à Espanha Verde?


Sobre a região
Geograficamente falando, o percurso enquadra-se no mapa do noroeste da Península Ibérica, na cordilheira de montanhas que integram a Cordilheira Cantábrica. Um complexo de montanhas no Norte de Espanha, que se estende paralelo ao rebelde Mar Cantábrico. Este roteiro em particular, atravessa a cordilheira nas comunidades autónomas da Cantábria e Castela e Leão. Nas suas vizinhanças está o Principado de Astúrias e o País Basco. Aqui, as montanhas elevam-se ao céu ao longo de mais de 500km, formando uma barreira natural entre o mar Cantábrico e a extensa (e maioritariamente plana) Meseta Ibérica. Entre profundos vales, gigantes rochedos, extensos planaltos com vista mar e muitos picos montanhosos, ali encontramos uma rede de estradas que unidas constroem uma das mais entusiasmantes rotas do país para percorrer de moto.

O clima na região
No que ao clima diz respeito, toda a zona é muito verde por uma razão. Como uma barreira natural dos agentes externos, os ventos que sopram do mar chocam com a Cordilheira Cantábrica produzindo posteriormente abundantes precipitações na vertente norte. Estamos na Espanha Verde e levar fato de chuva é aconselhável!
Assim é conhecida a zona. Porque ali tudo é magicamente revestido por um verde vigoroso, da vegetação que prospera com a precipitação intensa e a rede de águas abundante. Cascatas, lagoas, riachos e rios adornam a paisagem e, no seu caminho de encontro ao mar, constroem idílicos lugares por onde viajar de mota é um privilégio.
Já na vertente sul da Cordilheira Cantábrica, os ventos de origem meridional já estão secos e dão origem a um clima mais árido. A transição desta barreira natural, é feita por estradas de montanha que atingem perto dos 1500 metros de altitude, e nos levam a maravilhar a cada curva. São os chamados Puerto de Qualquer Coisa. Neste roteiro, partilharemos vários. Se algum nos escapou e rumarem à região, se virem uma placa com um nome que comece por Puerto, não hesitem! É para lá que está a diversão.
Dia 0 – Batalha – Valladolid | 500 km em 5 horas de condução
Começo por lhe chamar Dia 0. O Dia 0 é nosso método para seguir numa viagem de mota mais além economizando um dia útil de férias. Em que consiste? Na prática que consideramos ser um sucesso para gerir tempo: sair do trabalho às 18h já com a mota carregada e equipados para seguir viagem.
Este é o dia eleito para uns quilómetros de travessia em etapas rápidas e desinteressantes. Até a um alojamento estratégico que já nos conhece de longa data. Falamos do Hotel Pago del Olivo nos arredores da grande cidade de Valladolid. Muito bem localizado na saída da auto-estrada, com um preço equilibrado, garagem e parque fechado para a moto gratuito, confortável e boas condições de limpeza. Quase sem sentir, adiantámos 500 km e estamos agora mais perto do passeio a sério. Para mais informações acerca de disponibilidade e reservas neste hotel consulte aqui.
Dia 1 – Valladolid – Olleros de Pisuerga – Ojo Guarena | 250 km em 3 horas de condução
Estamos prontos para o roteiro principal. Este desenrola-se em torno de uma viagem de mota pela Cordilheira Cantábrica. É, a partir dos arredores da cidade de Valladolid que iniciamos aquele a que chamamos o nosso modo de passeio. Modo a partir do qual deixamos os itinerários mais rápidos, e os quilómetros no ecrã do nosso Garmin Zumo XT avançam a um ritmo muito mais lento.
Seguimos os caminhos do norte entre Palência e Burgos. Ali é inevitável não seguir pela rota do Românico da região. Qualquer rumo que se tome nos leva a um castelo, a uma igreja, a uma torre românica ou a qualquer outro monumento parte da rica história que por ali se preserva. Ainda não são dez horas da manhã, e é em Olleros de Pisuerga que estacionamos a nossa mota para a primeira paragem do dia.
Igreja Rupestre de los Santos Justo y Pastor
Construída no século VII, num promontório rochoso nos limites da aldeia, a Igreja Rupestre de los Santos Justo y Pastor é um autêntico repertório da escultura medieval; e um dos exemplos mais relevantes da arquitectura rupestre na província. Atravessando o coração da aldeia, apenas um olhar mais atento, e a sinalética insistente nos chama a atenção para esta pequena construção. Se não soubéssemos da sua existência, provavelmente passaríamos aqueles rochedos sem notar que neles fora construída uma igreja esculpindo as suas paredes.
Olleros de Pisuerga faz parte da paisagem protegida de Las Tuerces. Um conjunto de formas rochosas resultantes da acção erosiva da água e do vento sobre a rocha calcária. O espaço em redor foi declarado Monumento Natural de Las Tuerces pelo valor natural e património nele existente.




Informações práticas para a visita à Igreja de los Santos Justo y Pastor
Online havíamos consultado que o horário de abertura da igreja seria a partir das 10h. Assim, pouco faltava para as 10 horas da manhã quando estacionávamos a nossa mota no parque de estacionamento à entrada. Num soalheiro dia de Setembro, já com os ares frios da manhã a indicar que em breve o Outono chegará.
Subimos a escadas de acesso, e uma antiga porta de madeira encontrava-se ainda fechada. Nela estava rascunhado o novo horário, que certamente o guardião decidira, por bem, mudar. Nova hora: 11horas. Parece que visitar lugares mais remotos, apesar de bastante divulgados, se torna numa aventura de compatibilização de horários ao longo do dia.
Mas estávamos ali! Seria frustrante ir embora sem conhecer o interior. Seguimos para uma caminhada para o centro da vila de Olleros de Pisuerga. Aproveitando o calor do sol que naquela hora nos era bem vindo. Na nova hora certa, aproximou-se um senhor de idade, cambaleando escadas acima. Aquele que nos deu uma entusiasmante e detalhada explicação sobre o enquadramento histórico da pequena igreja.
- Contacto: +34 979 12 23 85
- Informação disponível da internet: aqui
- Preço bilhete: 1 Eur

Monumento Natural Ojo Guarena
Seguimos para o parque do Monumento Natural de Ojo Guarena. O território mais a norte da província de Burgos conhecido como as Las Merindades. Nos arredores nasce o rio Ebro, responsável por modelar a paisagem entre a cordilheira cantábrica e o planalto castelhano ao longo do seu curso. É admirável a forma como perfurou os rochedos em redor até criar um conjunto de desfiladeiros pronunciados e paisagens subterrâneas infinitas.
A exploração desta zona implica convívio intenso com a água, o principal elemento. A enorme barragem do Ebro que se prolonga por quilómetros é um dos pontos altos, onde a estrada que a contorna representa um dos mais panorâmicos da percursos da região. Ruínas que comprovam a ocupação romana indicam que há já milénios que aquele lugar é eleito como especial. Cidade romana de Julióbriga e Domus Los Morilllos são alguns do locais a visitar.
A vegetação faz agora uma transição gradual entre o mundo atlântico e o mediterrâneo, alternando vales férteis de rios caudalosos, com densas florestas de azinheiras, carvalhos, faias, pinheiros. Até que de repente nos surgem campos desnudos de interminável extensão. Estamos a entrar devagarinho na Espanha Verde. A tal separação da Meseta Ibéria e a Cordilheira Cantábrica. A partir deste ponto e para norte, damos as boas vindas às estradas de alta montanha e a diversão é outra!

Ermida de San Barnabé
Explorar o mundo subterrâneo da região é entrar no coração do Monumento Natural de Ojo Guarena e lá encontrar a Ermida de San Barnabé. Um dos maiores complexos cársicos de toda a Espanha. Aqui existem quilómetros e quilómetros de grutas e galerias distribuídas por vários pisos nas rochas, que maravilham os mais aventureiros. Nelas, foram encontradas pinturas rupestres que evidenciam a utilização como abrigo das comunidades da Pré-História.
Nós focamo-nos em conhecer aquela que é uma das poucas visitáveis: os 400 metros de gruta que terminam na Ermida de San Barnabé. A pequena igreja que foi encaixada na rocha e com uma abóboda natural que conserva notáveis pinturas sobre a vida de San Barnabé. De cores ricas e vistosas, é impossível não ficar fascinando a olhar para o tecto durante todo o tempo possível.




Informações práticas para a visita à Ermida de San Barnabé
É difícil encontrar informação online actualizada. Não existe um site oficial em funcionamento. Podemos apenas contar com os horários disponíveis no Google. Na data da nossa visita, os horários de abertura estavam entre as 10:30 da manhã e as 14:00. No entanto, recomendo a reserva antecipada de bilhete e contactar a bilheteira para informações mais actualizadas. Tanto quanto nos pareceu, os bilhetes e horários disponíveis ficam à mercê da gestão diária; o que para planear um dia de viagem pela região se torna incómodo. Podemos apenas dizer que apesar das dificuldades em encaixar esta visita em tempo útil, a Ermida de San Barnabé vale muito a pena. É um lugar único.
- Contacto: +34645490288
- Informação disponível da internet: aqui
- Preço bilhete: 4 Eur
🛏️Sugestão de Alojamento
Sugestão de Restaurante
Dia 2 – Ojo Guarena – Puerto Tornos/Lunada e Alisas – Liérganes | 180 km em 4 horas de condução
Acordamos em Espinosa de los Monteros. Uma vila tipicamente espanhola, aninhada no sopé da montanha, de casario tradicional e canteiros floridos. E é a partir dela que subida às montanhas se inicia. Uma das melhores portas de entrada da Espanha Verde.
Esta fora a primeira vez que explorámos a região da Cantábria nestas bandas. Seguíamos o nosso roteiro com a ideia de que depois dos Picos da Europa, seria difícil o Norte de Espanha oferecer-nos algo equivalente. Montanhas soberbas, estradas panorâmicas de traçado impressionante por entre paisagens naturais surpreendentes?
Neste dia o Puerto de los Tornos, Puerto de La Lunada e Puerto de Alisas provaram-nos o contrário. Também ali a cordilheira cantábrica nos proporciona lugares de beleza estonteante, por entre estradas de alta montanha que jamais imaginaríamos tão desafiantes. Daquelas que percorrer de mota é obrigatório e inesquecível.



As montanhas calcárias da Cantábria
A unicidade destas terras é marcada pelo tipo de rocha que atravessamos. Ali maioritariamente do tipo calcário que forma montanhas estratificadas de cor clara. Se estamos numa zona de pronunciado relevo, estas características tornam-se ainda mais soberbas. O Mirador del Nacimuento del Rio Asón é um dos mais mágicos lugares da região, com uma vista panorâmica privilegiada por todo um vale despovoado e de natureza avassaladora.
Estaríamos ali de repente transportados para os Alpes? A semelhança das colinas que nos acompanham, o verde vigoroso e a vegetação de pinheiros nórdicos assim nos avivam as memórias dos cenários alpinos. Mas depois salta-nos ao caminho a rota do Colláu de Espina e aquela estreita estrada no topo da montanha desnuda, ladeada por iminentes precipícios já nos remete à Escócia. Podemos concluir que uma viagem de mota pela cordilheira cantábrica é uma aventura de múltiplos ambientes em curtos quilómetros. Dentro da viseira fechada do nosso capacete, os nossos olhos brilham de emoção, mesmo que lá no topo as nuvens teimem em esconder o sol.
🛏️Sugestão de Alojamento
Sugestão de Restaurante
Dia 3 – Liérganes – San Vicente de La Barquera – Puerto de Braguia/Trueba/Palombera – Cervera de Pisuerga | 300 km em 6 horas de condução
Tão perto do mar Cantábrico que não podemos iniciar o regresso a casa sem o visitar. Apesar de termos pernoitado numa aldeia dos arredores de Liérganes, um dos Pueblos Bonitos de Espanha, rumamos a norte até que a estrada termine num areal qualquer. Revisitamos San Vicente de La Barquera, conhecida entre a beleza das suas praias, pela qualidade do peixe e mariscos que se servem num dos inúmeros restaurantes à beira mar.




Ainda não são dez horas da manhã. O nosso hábito de levantar cedo continua a fazer-nos chegar aos destinos conhecidos pelas referências gastronómicas fora das horas de refeição, era suposto ali chegarmos mais tarde.
Rumámos novamente a sul e à subida às montanhas. Seguem-se quilómetros e quilómetros de maravilhosos traçados no topo das montanhas. Subindo e descendo anfiteatros naturais, planaltos revestidos de vegetação rasteira onde a cor lilás de algumas flores se destaca. Puerto de la Braguia, Estacas de Trueba e Puerto de Palombera. Aqueles horizontes, tão verdes que parecem revestidos de algodão felpudo, são rasgados pelo traçado das estradas desenhadas com mestria.



🛏️Sugestão de Alojamento
Dia 4 – Cervera de Pisuerga – Batalha | 600 km em 6 horas de condução
Este é um dia aberto às possibilidades de continuar por uma nova rota ou regressar a casa. O regresso a casa e a caminho de sul, podem ser feitos pelas vias rápidas espanholas ou aproveitando muitos quilómetros para compatibilizar com estradas de interesse motociclístico. Nós continuámos a rota rumo a Miranda do Douro pela rota do Douro Internacional, seguindo o circuito Pré Histórico de Fornos de Algodres. Em breve um roteiro integral será publicado aqui. Para já, eis dois roteiros já publicados que podem ter etapas facilmente enquadradas neste dia:
Roteiro no Parque Natural do Douro Internacional entre o Vale do Côa e do Sabor | Portugal
A Rota do Douro Internacional e do Lago de Sanabria. Portugal 🇵🇹 | Espanha 🇪🇸
Informações práticas para uma viagem de mota pela Cordilheira Cantábrica
Quando Ir
Esta é uma região de alta montanha, com altitudes que próximas dos 2000 metros e algumas instalações para desportos de Inverno. Isto quer dizer que para uma viagem de mota para usufruir das estradas da região em pleno e em segurança, devem ser evitados os meses entre Novembro a Março.
Em todos os outros meses do ano, com a excepção das tempestades imprevisíveis, será a época ideal para rumar à Cordilheira Cantábrica fora das épocas de neve. Por lá, as pequenas estradas podem estar encerradas durante o Inverno, estando apenas os itinerários principais em funcionamento.
Seguro de viagem
Sempre foi nosso hábito fazer um seguro de viagem quando cruzamos fronteiras, mesmo para um pequeno fim de semana. Apesar da assistência em viagem da nossa mota, é importante ter consciência que um seguro de viagem é muito mais completo, abrange muito mais circunstâncias e conta com capitais seguros infinitamente superiores em caso de necessidade. Já para não falar que, nas viagens com pendura, a assistência do seguro da mota é praticamente inexistente. Para esclarecer melhor esta questão consulte aqui o nosso artigo já publicado.
Agora, nesta fase de pandemia, paira no ar a questão do Covid-19 que poderá deixar-nos mais apreensivos para fazer grandes planos ou cruzar fronteiras. Assim, indicamos que todos os planos da IATI Seguros incluem todas as despesas em caso de resultado positivo durante a viagem ou na véspera de partida. Pelo que, se já considerávamos importante não sair sem um seguro de viagem, agora recomendamos ainda mais.
Para os 5 dias deste roteiro, existem planos a por pessoa a partir de 15 Eur. Pelo valor simbólico não vale a pena arriscar a cruzar fronteiras sem uma salvaguarda em caso de problemas. Por seres nosso leitor, ao seguires este link ainda estarás a ajudar o blogue a continuar o seu projecto e receberás 5% de desconto no valor total da apólice. Simula abaixo os valores para as datas da tua viagem.
Postos de combustível e serviços
Existe uma boa rede de postos de combustível pela região. Mas, como em qualquer zona de montanha, recomendamos que abasteça com boas margens de autonomia pois só haverá oportunidade de abastecer fora dela.
Mapa do Percurso de viagem de mota pela Cordilheira Cantábrica
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Pretende utilizar este mapa no seu aparelho de navegação e não sabe como o fazer? Consulte aqui o nosso artigo já publicado.
- Quilómetros totais: 1800 km
- Duração da viagem sugerida: mínimo 4 dias
Genial!! Obrigado pela partilha, excelente! Não falta nada. Abreijos!
Obrigado pelo feedback e muito boas curvas! 😉
MAIS UM GRANDE REPORT DE VIAGEM . MUITOS PARABENS PELA PARTILHA E OBRIGADO.
Muito obrigado por acompanhar o blogue e pela mensagem! Boas curvas 😉
Mais um excelente trabalho de reportagem de mototurismo. Vocês são fantásticos. Depois das Astúrias e Cantabrico, falta-Vos fazer um sobre a Navarra, qye tem também excelentes estradas/paisagens/curvas. Bjs e abc e fico a aguardar pela próxima aventura.