Num pacato cenário de beleza estonteante, no vale que o Guadiana moldou e bordejou de sublimes colinas, esconde-se um dos mais belos percursos ribeirinhos de Portugal. Aquela que outrora fora a única estrada que entre Alcoutim e Odeleite, ficou agora esquecida no tempo com a construção de percursos mais modernos. E, por lá encontrámos uma das melhores estradas para percorrer de mota no país: a estrada M507.


Sobre a região
Estamos no interior Sul de Portugal, por terras da região do Algarve, onde os extensos areais ficam para trás, o solo se enruga e ganha elevação. Amendoeiras, azinheiras, sobreiros, figueiras, estevas e muitas flores silvestres atapetam o ponto fronteiriço onde acaba o Algarve e o Alentejo se estende para norte. Nesta região em particular, encontramos o vale do rio Guadiana que separa Portugal de Espanha. E, se por aqui destacamos o percurso por estrada entre Alcoutim e Odeleite, o Guadiana já há muito que adorna a paisagem fronteiriça, desde a sua entrada em Elvas, alargando o seu curso no Grande Lago do Alqueva, atravessando o Parque Natural do Guadiana até desaguar no Atlântico, em Vila Real de Santo António. Mas é apenas neste troço em particular, que a passagem por estrada pavimentada acompanha as suas margens mais de perto e por maior extensão, fazendo-nos sentir que navegamos em terra.
O percurso ribeirinho da Estrada M507
O percurso pela estrada M507 atravessa o município de Alcoutim, a vila à beira rio. O pequeno povoado raiano português, limitado a Norte por Mértola, e a Sul por Castro de Marim. Do outro lado da margem, está o povoado espanhol de Sanlúcar de Guadiana. Ali, em Alcoutim, acessível por uma pequena embarcação que transporta apenas passageiros. Uma desculpa para um passeio pelo rio.
A maioria das localidades atravessadas pela estrada M507, está coroada por fortalezas que defenderam o território contra as ameaças invasoras do passado, como o Castelo de Alcoutim e o Castro de Santa Bárbara e Castelo Velho. Por sua vez, nesta curta rota, encontram-se também núcleos monumentais que nos confirmam a presença humana nas suas terras desde tempos tão distantes como a época megalítica, continuando para a ocupação romana da Ibéria. Assim o confirmam os Menires do Lavajo e a Vila Romana do Montinho das Laranjeiras, incluídos na rota. Confirmando uma vez mais, a sabedoria imensa dos nossos antepassados, que sabiam como ninguém, instalar-se em privilegiados locais do mundo.


Estrada M507: De Santa Marta a Alcoutim
Deixamos para trás o curvilíneo percurso da N122, desde Mértola, e nos arredores da povoação de Santa Marta, seguimos a sinalética para a estrada M507. Ali é local ideal para conciliar a passagem pelos Menires do Lavajo e o Castelo Velho de Alcoutim/Castro de Santa Bárbara. A localização fora de estrada e o estado do acesso, fez-nos deixar a visita para uma próxima oportunidade.
No ocre escuro dos montes, a paisagem é preenchida pelas estevas e campos de pequenos pinheiros mansos entre as muitas curvas de que o percurso é feito. Em altitude, avançamos entre curva e contra curva pelas encostas de socalcos serranos, avistando ao fundo o povoado caiado de branco que à beira rio de instala: Alcoutim.


Estrada 507: De Alcoutim a Odeleite
É a partir de Alcoutim que o Guadiana nos acompanha na totalidade da rota. Agora, ao ocre das montanhas acrescenta-se o azul do rio emoldurado pela frescura de uma abundante vegetação ribeirinha. Ali, instalam-se nos solos férteis da beira rio, muitas hortas e pomares das mais variadas espécies.
À paisagem de estevas e pinheiros, juntam-se agora as azinheiras, os limoeiros, as laranjeiras, as figueiras, alfarrobeiras, amendoeiras, entre muitas outras espécies que prosperam em tão rico solo. As flores silvestres tomam o restante espaço e, em pleno Inverno, são os milhares de amendoeiras em flor que nos saltam ao caminho que pintam a paisagem de um rosa suave. Aqui encontramos na natureza uma imensa tranquilidade para apreciar o espéctaculo natural em redor.
Pontualmente, atravessamos os povoados perdidos pelas serranias onde o casario é construído alternando as paredes de xisto com a brancura da cal. A vida corre devagar, devagarinho. Os veleiros, pequenas e grandes embarcações navegam rio acima, rio abaixo. Umas lançam âncoras nos seus meandros e por ali permanecem fluindo na tranquilidade das suas águas. Abrimos a viseira do capacete e a leve brisa ribeirinha faz-se sentir no nosso rosto. Seguimos sobre rodas de olhos postos no rio, até encontrar a Foz de Odeleite, um dos afluentes do Guadiana que também ali terminam o seu curso. Tal como a estrada M507.




A passagem por esta estrada é compatível com um roteiro de viagem de mota pelo Parque Natural do Vale do Guadiana, com passagem por Mértola, onde termina o troço navegável do Guadiana, Cais do Pomarão e pelas Minas de São Domingos e sua peculiar paisagem. Para mais informações consulte o roteiro:
Roteiro pelo Parque Natural do Guadiana: Mértola e Minas de São Domingos
Alojamento em Alcoutim
Restaurantes em Alcoutim
- Cantarinha do Guadiana, Laranjeiras (a 10km do centro de Alcoutim)
- Taberna do Ramos, Alcoutim (a 3km do centro de Alcoutim)
Mapa detalhado da Estrada M507 pelas margens do rio Guadiana
Para consultar o mapa em detalhe, clique sobre ele ou utilize o canto superior direito para abrir directamente na página do Google Maps. Poderá fazer o zoom necessário para ver a rota em pormenor ou exportar para o GPS como preferir. Clicando no canto superior esquerdo, é também possível ler a legenda do mapa em detalhe. Pretende utilizar este mapa no seu aparelho de navegação e não sabe como o fazer? Consulte aqui o nosso artigo já publicado.
- Percurso total: 30 km